Videoaula: Substância branca
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Você alguma vez já sentiu que não tem controle sobre a sua vida? Como se alguém estivesse puxando os seus fios por você. Você já sentiu que é a marionete de alguém? Bem, você é! Eu estou só brincando, ...
Leia maisVocê alguma vez já sentiu que não tem controle sobre a sua vida? Como se alguém estivesse puxando os seus fios por você. Você já sentiu que é a marionete de alguém? Bem, você é! Eu estou só brincando, mas o seu corpo funciona de uma forma semelhante a uma marionete. Me deixe explicar. O seu cérebro é como o controlador da marionete. Ele toma todas as decisões sobre como cada pequena parte do seu corpo vai funcionar. Apesar do cérebro ser infinitamente complexo e interessante, ele não é o nosso foco principal hoje. O que nós queremos saber é como é que ele controla o corpo.
Tal como uma marionete, o corpo é controlado por várias estruturas parecidas com fios. Contudo, ao contrário de uma marionete, estes fios estão contidos na medula espinal, especificamente na substância branca, e são chamados de tratos da substância branca. Vamos voltar por um momento para a analogia entre a medula espinal e os fios da marionete. Se alguém que não gosta de teatro atacar uma marionete com uma tesoura e cortar um dos fios, o controlador não conseguirá mais mover o membro que estava ligado a esse fio. A medula espinal funciona de acordo com princípios bem semelhantes, mas o controle é muito mais fino. Assim, mesmo um pequeno corte na medula espinal pode deixar metade do seu corpo flácido e sem sensibilidade.
Tal como o cérebro, a medula espinal é complexa e linda, e a melhor maneira de aprender sobre ela é estudar a sua secção transversal. Bem, eu espero que você esteja com vontade de aprender porque nós estamos prestes a descobrir tudo sobre os detalhes da secção transversal da medula espinal, especialmente dos tratos da substância branca. Você pode estar pensando que a medula espinal parece ser uma estrutura super complicada, mas não se preocupe. Ao longo deste tutorial nós vamos apresentá-la para você de uma forma lógica e fácil de compreender. Nós vamos começar recapitulando a anatomia macroscópica da medula espinal.
Depois vamos dar uma olhada básica na secção transversal da medula espinal antes de continuarmos para a substância branca, as suas subdivisões anatômicas, e os feixes de axônios chamados tratos. Ao longo deste tutorial nós vamos abordar as diferentes funções que todas essas estruturas têm e a variação da medula espinal nos diferentes níveis espinais. Nós vamos terminar com algumas notas clínicas para lhe dar ideia da importância das funções dos tratos da substância branca. Muito bem, vamos começar. Para melhor visualizar os elementos da substância branca e a sua extensão no corpo nós vamos começar revendo brevemente a anatomia macroscópica da medula espinal.
A medula espinal é uma estrutura tubular que ocupa o canal vertebral entre o forame magno e as vértebras L1 a L2. Ela começa como um prolongamento do bulbo do encéfalo e termina no cone medular com os nervos espinais inferiores soltos, que formam a cauda equina. Há duas intumescências ao longo do comprimento da medula espinal - uma na região cervical e outra na região lombossacra. A cada nível vertebral, um par bilateral de raízes nervosas deixa a medula espinal através das radículas para formar os nervos espinais.
Nós vamos agora dar uma olhada mais atenta à secção transversal da medula espinal porque ela está cheia de marcos anatômicos e áreas importantes para uma boa compreensão da substância branca da medula espinal. Vamos começar por nos orientar. Os anatomistas gostam de complicar as coisas, por isso apesar de usarem os termos anterior e posterior na na maioria dos casos, quando falam sobre a medula espinal, também usam frequentemente os termos ventral em vez de anterior e o dorsal em vez de posterior. Para facilitar, nós vamos continuar usando os termos anterior e posterior neste tutorial.
A primeira coisa que você vai reparar em qualquer imagem de uma secção transversal da medula espinal são as áreas distintas de substâncias branca e cinzenta. A substância cinzenta está no centro e a substância branca ao redor. A substância cinzenta tem uma forma especial que você vai reconhecer em qualquer lugar porque se parece com uma pequena borboleta. É fácil de memorizar o que forma a medula espinal já que ela é apenas uma extensão do encéfalo, por isso, naturalmente é constituída por neurônios, ou seja, células nervosas. A substância cinzenta é constituída principalmente por corpos celulares, mas também estão presentes alguns axônios mielinizados e não mielinizados. A substância branca consiste principalmente de axônios mielinizados que dão à substância branca a sua aparência clara devido aos lípideos presentes na mielina. As substâncias cinzenta e branca contêm, logicamente, uma pequena proporção de outros elementos como células de suporte conhecidas como células gliais.
Nós vamos nos focar na substância branca neste tutorial, mas há um vídeo separado sobre substância cinzenta que você poderá encontrar no Kenhub. Então, a substância branca está dividida em diferentes regiões, mas estas regiões não têm limites definidos. Em vez disso, eles são definidos pelos marcos anatômicos que nós encontramos numa secção transversal da medula espinal. Eu quero falar sobre isso com um pouco mais de detalhes.
A medula espinal está claramente dividida nas metades direita e esquerda - anteriormente pela fissura mediana anterior e posteriormente pelo septo mediano posterior. O pequeno entalhe que nós vemos no aspecto posterior da medula espinal é chamado de sulco mediano posterior. Bilateralmente encontramos um entalhe semelhante, mas menor, no local onde as raízes posteriores se fixam à medula espinal. Ele é chamado de sulco posterolateral.
Na região cervical entre o sulco mediano posterior e o sulco posterolateral, você também irá encontrar um sulco longitudinal chamado de sulco intermédio posterior. Ele separa o fascículo grácil do fascículo cuneiforme, mas nós vamos aprender mais sobre estas estruturas da substância branca mais à frente neste tutorial. O sulco anterolateral encontra-se no local onde as raízes anteriores se juntam à medula espinal. As duas metades da substância branca encontram-se na linha média através da comissura branca anterior. Imediatamente posterior a ela, você encontrará a comissura cinzenta unindo as duas metades da substância cinzenta. E no centro dela está o canal central - um tubo fino preenchido por líquor, que se estende ao longo de todo o comprimento da medula espinal. Ele é a continuação do quarto ventrículo do cérebro, e como tal, se comunica com o sistema ventricular intracraniano e com as cisternas.
Algumas fibras mielinizadas correm ao lado da comissura cinzenta, posteriormente ao canal central e formam a comissura branca posterior. Então nós acabamos de abordar o básico, o que significa que podemos finalmente passar para o tema principal deste tutorial - a substância branca. Nós vimos os marcos anatômicos da seção transversal, o que significa que nós podemos agora ver as divisões anatômicas da substância branca. Há três áreas distintas em cada metade, o que significa que cada parte vem com um par bilateral.
Entre a fissura anteromediana e o corno anterior da substância cinzenta ou o sulco anterolateral, nós encontramos o funículo anterior. A área entre os sulcos anterolateral e posterolateral é definida como o funículo lateral. E finalmente a área entre o sulco posterolateral ou o corno posterior e o septo mediano posterior é chamada de funículo posterior.
Bem fácil por enquanto, não acha? Nós já falamos que a substância branca consiste principalmente de axônios mielinizados. Vamos agora mencionar brevemente as estruturas que eles formam, chamadas de tratos da substância branca. Nesta imagem que agora aparece no lado direito da sua tela você pode ver a via do trato corticoespinal. Não se preocupe com os detalhes por agora, vamos olhar para a imagem para entender o que é um trato e o que ele faz. Nós podemos ver que ele conecta dois pontos.
Outra coisa que você vai reparar se olhar com atenção é que estão desenhadas várias linhas, em vez de apenas uma, para ilustrar que é um conjunto de axônios e não apenas um axônio tentando encontrar o seu lugar no mundo. Estes axônios têm em comum a sua origem, percurso e destino.
De acordo com a sua função, os tratos da medula espinal são divididos em tratos ascendentes e descendentes. Se você pensar bem, qualquer informação que chega ao cérebro é apenas um feedback de diferentes partes do corpo podendo estar relacionadas a dor, temperatura, propriocepção, ou sensação da posição das articulações, etc. Por isso, os tratos ascendentes, que vão até ao cérebro, transportam informação sensitiva. Os tratos descendentes fazem o contrário. Eles transportam a informação do cérebro para baixo, em direção ao resto do corpo, fazendo uma parada na substância cinzenta da medula espinal. Por isso, não é surpreendente que os tratos descendentes transportem informação motora, as ordens do que o corpo deve fazer - lembra-se da analogia da marionete que falamos há pouco? Tudo isso representa bem como os tratos descendentes funcionam.
A nomenclatura destes tratos também é bem simples. Por exemplo, o trato corticoespinal anterior, que é o o trato que você está vendo agora na sua tela. A primeira parte do nome mostra a sua origem, a parte seguinte refere-se ao seu destino, e finalmente, nós temos o funículo em que ele se encontra. Os nomes dos tratos da substância branca são como segredos escondidos à vista de todos.
Muito bem, eu acho que nós já abordamos todos os assuntos básicos. Vamos continuar com os tratos descendentes da medula espinal. Pode parecer que há muita coisa para aprender, mas eu vou dividir em pequenas partes para tornar mais fácil para você.
Vamos começar. Um conceito importante que você precisa compreender antes de nós continuarmos é o dos neurônios motores superior e inferiores. Os neurônios motores superiores são aqueles cujos corpos celulares estão no cérebro e cujos axônios se prolongam para transportar informação até à medula espinal. Os neurônios motores inferiores são aqueles cujos corpos celulares estão na substância cinzenta da medula espinal e cujos axônios se estendem para entregar informação motora aos músculos esqueléticos.
É hora de continuarmos para alguns tratos específicos. A boa notícia é que nós vamos começar com os tratos que nós já conhecemos, então vamos começar com o trato corticoespinal. Como este é um trato descendente, nós já sabemos que ele transporta informação motora. Nesse caso, especificamente, movimentos voluntários.
Agora vamos ver o seu trajeto. Os neurônios motores superiores deste trato se originam nos centros motores do córtex cerebral e descem através do mesencéfalo, ponte, e bulbo do tronco encefálico. Esta parte da via também é por vezes chamada de trato corticobulbar. E é aqui que as coisas ficam interessantes. Na parte inferior do bulbo, cerca de oitenta por cento das fibras cruzam para o outro lado. Isso mesmo.
Os nossos corpos são bem esquisitos, já que o hemisfério esquerdo na realidade controla a maior parte do lado direito do corpo e vice versa. Este cruzamento é chamado de decussação das pirâmides e você pode vê-la muito bem na parte ampliada da imagem. Nós dizemos que as fibras que cruzam para o outro lado decussam. As fibras depois viajam inferiormente no funículo lateral da substância branca da medula espinal, formando o trato corticoespinal lateral. Você pode observar a localização deste trato em relação a outros tratos nesta imagem da secção transversa da medula espinal. O trato tem uma disposição somatotópica, ou seja, as suas fibras estão distribuídas na medula espinal de uma maneira organizada. As fibras das partes superiores do corpo são mais mediais e as fibras das partes inferiores do corpo são mais laterais.
Vamos agora voltar à parte inferior do bulbo, onde nós dissemos adeus às fibras que formam o trato corticoespinal lateral, para vermos o que acontece com a pequena quantidade de fibras que não decussa. Você pode ver na imagem que elas viajam caudalmente no funículo anterior para formar o trato corticoespinal anterior. Aqui, você pode vê-lo em relação aos outros tratos. Ele é um pouco diferente do seu irmão lateral na sua função, já que só forma sinapses com a substância cinzenta nas regiões cervical e torácica superior, e supre apenas essas regiões. Ele se une à substância cinzenta do lado oposto após cruzar na comissura branca anterior. Ele controla os músculos axiais e do quadril do lado oposto.
OK, vamos então conhecer este cara aqui - o trato rubroespinal. Ele tem um trajeto muito mais simples do que o trato corticoespinal, que nós acabamos de ver. Ele se origina no núcleo rubro, na porção superior do mesencéfalo. O termo rubro- é derivado do seu nome em Latim nucleus ruber, que, como talvez você já tenha adivinhado, significa núcleo vermelho. Ele depois cruza ao nível do núcleo rubro na decussação tegmental anterior através da ponte e do bulbo e desce caudalmente no funículo lateral da substância branca da medula espinal. Algumas das fibras misturam-se com as fibras do trato corticoespinal, e você pode vê-las destacadas em verde na imagem, imediatamente anteriores ao trato costicoespinal lateral. Os axônios que formam o trato terminam quando formam sinapses com os neurônios no corno anterior da substância cinzenta. A sua função é facilitar a atividade dos músculos flexores e inibir a atividade dos músculos extensores, no entanto, ele é pouco desenvolvido nos humanos.
Outra via bem pequena é o trato tetoespinal. Ele recebe o seu nome porque se origina no colículo superior, que está no teto do mesencéfalo. Ele decussa na parte superior do tegmento do encéfalo e continua a descer através da ponte e do bulbo para terminar no funículo anterior perto da fissura mediana anterior. A maioria das fibras termina na região cervical superior da medula espinal, e acredita-se que elas tenham um papel nos movimentos posturais reflexos em resposta a estímulos visuais. Então este trato aqui é um pouco diferente dos outros que nós vimos. Eles não partilham a sua origem nem nenhuma parte da via, mas acabam tendo a mesma função.
Os tratos começam em lugares diferentes da formação reticular, que é uma coleção de grupos de neurônios e fibras espalhadas pelo mesencéfalo, ponte e bulbo. O trato reticuloespinal medial surge da parte medial da formação reticular, principalmente na ponte, e desce no funículo anterior, próximo da fissura mediana anterior. É frequentemente chamado de trato reticuloespinal pontino. A sua principal função é ajustar a postura, ao facilitar a função dos extensores do tronco e inibir alguns músculos do pescoço. O trato reticuloespinal lateral começa na parte lateral da formação reticular do bulbo e algumas vezes é chamado de trato reticuloespinal bulbar. Ele viaja no funículo lateral para formar sinapses com o corno anterior da substância cinzenta. Ele facilita a ação dos músculos flexores dos membros e do tronco. Ele também transporta algumas fibras ascendentes relacionadas com a transmissão da dor. E agora um pequeno detalhe. Infelizmente, atualmente não há um consenso universal se algumas das fibras desta via cruzam para o lado contralateral ou se permanecem sempre do mesmo lado.
O próximo trato - o trato vestíbulo-espinal - é, na verdade, dividido em dois - os tratos vestíbulo-espinais medial e lateral. Eles surgem dos núcleos vestibulares medial e lateral do bulbo, respetivamente, no assoalho do quarto ventrículo. Estes núcleos recebem informações do ouvido interno através do nervo vestibular e de alguma inervação do cerebelo. A orelha interna envia informação sobre a posição do corpo, por isso faz sentido que o trato relacionado a ela envie informação motora para os músculos responsáveis pelo equilíbrio. Imagine que há um problema com a sua orelha interna. Ela estaria enviando sinais errados relacionados à posição do seu corpo, e os músculos associados estariam fazendo coisas bem bizarras. A sensação de tontura que frequentemente surge quando as pessoas balançam, se inclinam, e às vezes quando caem é chamada vertigem.
O trato vestíbulo-espinal medial surge, naturalmente, do núcleo medial e viaja inferiormente no funículo anterior. Curiosamente, algumas das suas fibras cruzam para o lado oposto, e outras não. Em última análise, este trato inibe a ação dos músculos do pescoço e superiores das costas, relacionados com a manutenção do equilíbrio. O trato vestíbulo-espinal lateral desce do núcleo vestibular lateral ipsilateralmente. O que é que isso significa? Bem, isso apenas significa que viaja do mesmo lado e não cruza para o outro lado do corpo. A sua função é estimular a ação dos músculos extensores e inibir a dos flexores do pescoço, das costas, e dos membros que estão relacionados com o equilíbrio.
Há alguns tratos que permitem a comunicação entre o cérebro e o sistema nervoso autônomo e nós vamos tentar passar por eles agora. Os tratos hipotalamoespinais se originam nos núcleos paraventriculares do hipotálamo e prolongam-se inferiormente para as células pré-ganglionares parassimpáticas e simpáticas no corno cinzento posterior. Eles são afetados pelos hormônios oxitocina, vasopressina, e dopamina. Os tratos catecolaminérgicos começam no locus cerúleo e no bulbo e terminam nos gânglios pré-sinápticos nos cornos posterior e lateral. Eles são controlados por epinefrina, norepinefrina, e dopamina.
Finalmente, os tratos rafe-espinais conectam os núcleos da rafe à medula espinal. Eles são influenciados pela serotonina, e têm um papel importante na nocicepção e no movimento. Muito bem, nós abordamos todos os tratos descendentes.
Vamos agora passar para o vasto mundo dos tratos ascendentes da substância branca da medula espinal.. Ok, antes de nós vermos cada trato em detalhes eu quero apresentar rapidamente os tratos que você irá encontrar na via sensitiva.
Normalmente, eles são divididos em neurônios de primeira, segunda e terceira ordem. Os corpos celulares dos neurônios de primeira ordem estão nos gânglios da raiz dorsal. Nesses neurônios pseudounipolares, o processo periférico estende-se até aos receptores para coletar informação sensitiva e formar nervos periféricos. Através das raízes dorsais dos nervos, os seus processos centrais entram na substância cinzenta e formam sinapses com os corpos celulares presentes nos núcleos no corno posterior. Estas células na substância cinzenta são os neurônios de segunda ordem da via ascendente. Quando o córtex cerebral está envolvido na via, as fibras primeiro chegam ao tálamo, e é aqui que estão os neurônios de terceira ordem. Eles levam a informação até à área apropriada do córtex cerebral.
Ok, agora que nós percebemos a ordem normal da via sensitiva, vamos começar vendo uma exceção a esta regra. O fascículo grácil e o fascículo cuneiforme são dois tratos rebeldes que ocupam o funículo posterior da substância branca. Você pode ver os tratos nomeados na imagem.
O que é que eles têm de tão especial, eu escuto você perguntar. Bem, em vez de formarem sinapses com os neurônios de segunda ordem na substância cinzenta, os neurônios de primeira ordem estendem o seu processo central a partir do gânglio da raiz dorsal cranialmente e por isso, os tratos são formados pelos neurônios de primeira ordem em vez de pelos de segunda. As fibras estão arranjadas de uma forma bem lógica nestes tratos. As fibras mais mediais surgem dos gânglios mais inferiores, enquanto as fibras mais laterais surgem dos gânglios mais superiores. O fascículo grácil localiza-se medialmente e contém fibras das regiões coccígeas, sacrais, lombares e torácicas inferiores, o que significa que ele estende ao longo da medula espinal, enquanto o fascículo cuneiforme se localiza lateralmente e consiste de fibras dos gânglios espinais torácicos superiores e cervicais, o que significa que ele só é visível numa secção transversal ao nível dessas regiões. Estes tratos estendem-se cranialmente até à parte inferior do bulbo. O fascículo grácil termina depois no núcleo grácil, enquanto o fascículo cuneiforme termina no núcleo cuneiforme.
Os neurônios de primeira ordem nunca cruzam a linha média, por isso eles são considerados ipsilaterais. A partir daqui, os neurônios de segunda ordem cruzam na medula e viajam para a parte posterior do tálamo. Os neurônios de terceira ordem entregam, finalmente, a informação ao córtex somatossensorial. Eles transportam informação de propriocepção, tato fino, vibração, e discriminação entre dois pontos.
Muito bem, agora vamos voltar aos tratos que obedecem às regras. Bem, pelo menos em sua maioria. Os corpos celulares dos neurônios de primeira ordem dos tratos espinotalâmicos anterior e lateral estão localizados nos gânglios espinais e prolongam o seu processo central para formarem sinapses com neurônios na substância cinzenta. A única coisa fora do normal é que eles podem viajar por uma curta distância no trato dorsolateral, perto da ponta do corno posterior, antes de entrarem na substância cinzenta.
Eles depois estabelecem ligações com os neurônios nas lâminas II a V, principalmente na substância gelatinosa de Rolando e no núcleo próprio. Estas fibras depois cruzam para o lado contrário através da comissura branca para formar os tratos espinotalâmicos anterior e lateral. A principal diferença aqui é que as fibras que formam o trato espinotalâmico lateral vão cruzar ao mesmo nível, enquanto as que fazem o trato espinotalâmico anterior podem ascender um ou mais níveis vertebrais antes de cruzarem. Apenas uma pequena quantidade de fibras continua sem cruzar. Apesar de os tratos serem considerados distintos e até viajarem em funículos diferentes, eles formam, na verdade, uma banda contínua. As fibras do trato anterior transportam informação de tato grosseiro e pressão, enquanto as do trato lateral estão envolvidas nas sensações de dor e temperatura. Apesar de fibras diferentes terem funções diferentes, elas constituem uma unidade funcional, e como o nome sugere, as fibras dos neurônios de segunda ordem do trato viajam superiormente até o tálamo, onde elas formam sinapses com os neurônios de terceira ordem que transportam informação para o córtex.
Os tratos espinocerebelares são outra pequena dupla. Eles transportam impulsos proprioceptivos dos feixes musculares, dos órgãos tendinosos de Golgi, e de outros receptores para o cerebelo, o que ajuda o cérebro a coordenar os movimentos musculares. Estes tratos podem ser subdivididos nos tratos espinocerebelares anterior e posterior.
Nós vamos começar pelo trato espinocerebelar posterior, também conhecido como trato espinocerebelar dorsal. Este trato leva informação proprioceptiva inconsciente dos membros inferiores e da porção inferior do tronco. Os processos periféricos dos neurônios de primeira ordem transportam informação destas áreas para os corpos celulares localizados nos gânglios espinais dos níveis espinais inferiores a C8. O seu processo central se estende para a substância cinzenta. Aqui eles formam sinapses com os corpos celulares dos neurônios de segunda ordem no núcleo torácico posterior, que também é frequentemente chamado de núcleo dorsal ou núcleo de Clarke. O núcleo torácico posterior só se estende entre os níveis espinais C8 e L3, então os processos centrais dos neurônios de primeira ordem abaixo do nível de L3 pegam uma carona no funículo grácil para chegarem a L3, onde podem formar sinapses com os neurônios de segunda ordem no núcleo torácico posterior. Os axônios dos neurônios de segunda ordem ascendem no trato espinocerebelar posterior, localizado no funículo lateral do mesmo lado do corpo, até ao nível do bulbo. Aqui as fibras entram na região paravermiana do cerebelo através do pedúnculo cerebelar inferior.
Passando agora para o trato espinocerebelar anterior, também conhecido como trato espinocerebelar ventral. Fiél ao seu nome, ele está localizado anteriormente ao trato espinocerebelar posterior, e transporta informação proprioceptiva inconsciente do membro inferior para o cerebelo. Os corpos celulares dos neurônios de primeira ordem estão localizados nos gânglios espinais dos níveis lombossacrais L2 a S5, com o seu processo central formando sinapse com os neurônios de segunda ordem na zona entre os cornos anterior e posterior da substância cinzenta ou lâminas V, VI e VII.
Os neurônios de segunda ordem também comunicam com fibras motoras descendentes destinadas ao membro inferior. A maioria dos axônios cruza e ascende no trato espinocerebelar anterior próprio, que está localizado no funículo lateral da medula espinal. Num nível supraespinal, ele passa através do mesencéfalo, da ponte e do bulbo. Aqui as fibras entram no cerebelo através do pedúnculo cerebelar superior. E como se esta via já não fosse estranha o suficiente, os neurônios de segunda ordem depois cruzam novamente para o seu lado original. Assim, a informação de um lado do corpo é recebida pela parte ipsilateral do cerebelo. Isto é conhecido como uma decussação dupla das fibras. Tanto o trato espinocerebelar anterior como o posterior que nós acabamos de discutir têm uma contraparte, que transporta informação da parte superior do tronco e do membro superior.
O trato cuneocerebelar é o equivalente ao trato espinocerebelar posterior. Os seus neurônios de primeira ordem originam-se no membro superior e tronco e vão para os níveis espinais C1 a C8 da medula espinal. Apesar dos seus corpos celulares também estarem nos gânglios espinais, os processos centrais desses neurônios de primeira ordem não formam sinapses na substância cinzenta da medula espinal. Em vez disso, eles sobem no fascículo cuneiforme do mesmo lado do corpo e formam sinapses com os neurônios de segunda ordem localizados no núcleo cuneiforme acessório.
Daqui, os axônios dos neurônios de segunda ordem entram no cerebelo através do pedúnculo cerebelar inferior. Claro que nós também temos um equivalente do trato espinocerebelar anterior, que é o trato espinocerebelar rostral. Os seus neurônios de primeira ordem se originam ao nível de C8 e acima, e formam sinapses com os neurônios de segunda ordem na zona intermediária da substância cinzenta. Os axônios destes neurônios sobem ipsilateralmente para entrar no cerebelo através dos pedúnculos cerebelares superior e inferior.
Muito bem, não desista agora, só falta falar de alguns tratos ascendentes simples. O primeiro é o trato espinoreticular. Ele é uma coleção de fibras que se originam principalmente na lâmina VII, junto com algumas fibras das lâminas V e VIII. Algumas fibras cruzam e outras ficam do mesmo lado. Eles depois sobem na parte anterolateral da medula espinal, misturando-se com os tratos espinotalâmicos. Eles terminam na formação reticular do bulbo e da ponte, e acredita-se que transportem informação sobre a dor. Este pequeno trato, o trato espino-olivar, consiste de fibras cruzadas que surgem na medula espinal, viajam no funículo lateral da medula espinal, e termiam no núcleo olivar inferior.
Ok, pessoal, terminamos todas as coisas difíceis, se você chegou até aqui, muito bem! Agora nós sabemos o que é a substância branca da medula espinal, vamos ver como ela muda a sua aparência ao longo do comprimento da medula espinal. Se você olhar para a imagem, você vai reparar que a substância branca aumenta progressivamente à medida que viaja cranialmente. E se você pensar sobre isso, à medida que nos movemos superiormente cada vez mais fibras são adicionadas aos tratos ascendentes, e na região cervical você vai encontrar fibras transportando informação para quase todo o corpo. De forma semelhante, as vias descendentes têm mais fibras superiormente na medula espinal, porque caudalmente, as fibras separam-se para suprir estruturas a diferentes níveis vertebrais.
Antes de nós terminarmos o dia, eu quero ver rapidamente o que acontece quando há alguma coisas de errado com os tratos da substância branca. Há várias lesões e condições, que afetam os tratos da substância branca, e nós ficaríamos aqui o dia todo se tentássemos falar sobre todas elas. Em vez disso vamos ver as lesões dos neurônios de primeira ordem dos tratos corticoespinais como um exemplo - especificamente, como é que você testaria este tipo de lesão. Há três indicadores relacionados com reflexos que sugerem dano nos neurônios dos tratos corticoespinais.
Primeiro, existe o sinal de Babinski. Num indivíduo saudável, quando se toca na borda lateral da planta do pé, os todos os dedos sofrem flexão plantar. Se houver dano, o dedão do pé fica fletido dorsalmente ou aponta para cima e os outros dedos abduzem ou separam-se uns dos outros. Você também poderia testar o reflexo abdominal superficial. Num indivíduo normal, os músculos abdominais contraem-se quando o abdômen é arranhado, mas o reflexo está ausente se houver dano do trato corticoespinal.
O próximo teste é engraçado. Infelizmente, ele só se aplica a cerca de cinquenta por cento da população. É o reflexo cremastérico. Quando a porção superior e medial da coxa é tocada, o testículo do mesmo lado contrai. O reflexo está ausente em caso de dano do trato corticoespinal. Muito bem e assim terminamos.
Vamos recapitular o que aprendemos hoje. Nós aprendemos que cada metade da medula espinal tem um funículo anterior, um funículo lateral, e um funículo posterior. Nós depois passamos para os feixes de axônios mielinizados encontrados na substância branca, que são chamados de tratos. Nós descobrimos que os tratos são simplesmente estruturas que ligam dois pontos de substância cinzenta, um localizado na medula espinal e outro no cérebro.
Os tratos que começam no cérebro e transportam informações motoras para a medula espinal são chamados de tratos descendentes, enquanto as fibras que transportam informação sensitiva da medula espinal para o cérebro são chamadas de tratos ascendentes. Nós primeiro aprendemos sobre a organização geral dos tratos descendentes com um neurônio motor superior encontrado no cérebro e um neurônio motor inferior encontrado na medula espinal. E depois nós continuamos para aprendermos mais sobre os tratos específicos.
Nós começámos com os tratos corticoespinais cujas fibras se originam no córtex cerebral. Nós vimos o trato corticoespinal lateral que é o principal fornecedor de informação motora voluntátia. Nós também vimos as fibras que não cruzam, descendo no funículo anterior e formando o trato corticoespinal anterior. Elas fornecem informação motora aos músculos axiais e do quadril. Nós também aprendemos sobre o trato rubroespinal que se origina no núcleo rubro e cruza no mesmo nível, em seguida descendo no funículo lateral e formando sinapses no o corno anterior da substância cinzenta.
Depois nós olhamos para o trato tetoespinal - uma coleção de fibras originárias do colículo superior que decussa na parte superior do tegmento e desce no funículo anterior. Em seguida aprendemos sobre os tratos reticuloespinais que se originam em diferentes localizações da formação reticular do mesencéfalo, ponte, e bulbo.
Nós vimos dois tratos - o trato reticuleoespinal medial que tem um papel importante no ajuste postural e o trato reticuloespinal lateral que tem um papel importante na ação dos músculos flexores dos membros e do tronco. Em seguida nós vimos os tratos vestíbulo-espinais.
Nós vimos estes dois tratos que surgem ambos dos núcleos vestibulares e comunicam com a orelha interna através do nervo vestibular. Nós vimos o trato vestíbulo-espinal medial, que surge no núcleo vestibular medial, e o trato vestíbulo-espinal lateral que se origina no núcleo vestibular lateral.
Depois dos tratos descendentes, nós passamos para os tratos ascendentes, e vimos rapidamente os neurônios que formam os esses tratos. Os corpos celulares dos neurônios de primeira ordem se encontram nos gânglios da raiz dorsal, os neurônios de segunda ordem na substância cinzenta da medula espinal, e os de terceira ordem no tálamo.
Primeiro nós vimos o funículo posterior da medula espinal, que era ocupado pelos fascículos grácil e cuneiforme. Nós vimos que eles transportam informação de propriocepção, tato fino, vibração, e discriminação entre dois pontos de diferentes níveis vertebrais para o córtex somatossensorial. A sua característica especial era que estes tratos eram na verdade formados pelos neurônios de primeira ordem em vez de pelos neurônios de segunda ordem que formam a maioria dos tratos ascendentes.
Em seguida nós vimos os tratos espinotalâmicos - o trato espinotalâmico anterior, que viaja no funículo anterior e transporta sensações de tato grosseiro e pressão, e o trato lateral que viaja no funículo lateral e transporta sensações de dor e temperatura. Se você se lembra, nós também vimos o trato espinocerebelar anterior e o trato espinocerebelar posterior. Nós vimos que a parte anterior surge nas lâminas V a VII e decussa enquanto a porção posterior começa no núcleo de Clarke e viaja ipsilateralmente. Apesar de eles terem um trajeto diferente, eles acabam ambos chegando às regiões do verme e paravermiana, e são responsáveis por transportar impulsos proprioceptivos de vários receptores.
Um dos últimos tratos ascendentes que nós vimos foi o trato espinorreticular, que surge principalmente na lâmina VII e viaja até à formação reticular, misturando-se parcialmente com os tratos espinotalâmicos. O trato espino-olivar conecta a medula espinal aos núcleos olivares acessórios e aos últimos tratos que acabamos de ver.
Finalmente, na nossa parte de notas clínicas, nós vimos alguns testes que podem ser usados para testar lesões dos tratos corticoespinais.
E isso é tudo por esta videoaula. Obrigada por assistir e vejo você na próxima!