Videoaula: Bulbo: nível do nervo hipoglosso
Você está assistindo uma prévia. Torne-se Premium para acessar o vídeo completo: Estruturas do bulbo ao nível do nervo hipoglosso.
Unidade de estudos relacionada
Transcrição
Olá pessoal! Aqui é o Rafael, do Kenhub, e sejam bem-vindos à nossa videoaula sobre a anatomia do bulbo ao nível do nervo hipoglosso.
Vamos começar esta videoaula com alguns conceitos ...
Leia maisOlá pessoal! Aqui é o Rafael, do Kenhub, e sejam bem-vindos à nossa videoaula sobre a anatomia do bulbo ao nível do nervo hipoglosso.
Vamos começar esta videoaula com alguns conceitos básicos, te ensinando como se orientar nos diferentes níveis de cortes do tronco encefálico. Você vai aprender quais marcos anatômicos devem ser identificados para conseguir saber em qual nível você está. No nosso caso, vamos descobrir quais são os pontos de referência exclusivos de um corte no nível do nervo hipoglosso que, como você sabe, é o nervo craniano número XII.
Então vamos começar com uma visão geral do que será discutido hoje.
Inicialmente, vamos falar sobre as subdivisões anatômicas do tronco encefálico para aprendermos a nos orientar. Depois, vamos aprender a localizar o núcleo do nervo hipoglosso, que é o tema da nossa videoaula de hoje, e também o núcleo olivar, uma estrutura proeminente que é relativamente fácil de ser localizada. Ao finalizar nossa introdução, vamos ver os marcos anatômicos mais importantes deste nível que, depois, vão nos ajudar a explorar a anatomia desta região.
Quando formos falar sobre os marcos anatômicos, vamos dividir esta área em regiões menores de acordo com os marcos mais significativos que elas contêm. Mais especificamente, vamos começar falando da região anterior, onde encontramos o trato piramidal e os núcleos adjacentes, como o núcleo arqueado e suas fibras arqueadas superficiais correspondentes. Também falaremos sobre o complexo olivar inferior, que está localizado nesta região, os núcleos olivares, o trato olivocerebelar e o núcleo olivar acessório posterior.
Continuaremos então para a região anterolateral. Aqui vamos falar do trato tegmental central e do núcleo reticular lateral. Depois dessa região, vamos focar na linha média, quando discutiremos várias estruturas importantes, como o lemnisco medial, o fascículo longitudinal medial e o núcleo ambíguo. Assim que estivermos dominando as estruturas da linha média, vamos seguir para a região lateral, quando falaremos sobre o núcleo espinal do nervo trigêmeo e o trato espinal do nervo trigêmeo.
Em seguida, vamos falar sobre os núcleos da substância cinzenta central, na região dorsal do bulbo, começando com o núcleo do nervo hipoglosso e o nervo hipoglosso propriamente dito; seguindo lateralmente, vamos destacar o fascículo longitudinal posterior, o núcleo posterior do nervo vago, o núcleo do trato solitário e o trato solitário propriamente dito, além dos núcleos grácil e cuneiforme. Depois, vamos falar sobre as fibras arqueadas internas, que se originam desses núcleos, e sobre a decussação do lemnisco medial. Por fim, concluiremos nossa videoaula com algumas notas clínicas sobre a síndrome de Dejerine, caracterizada por um conjunto de sintomas resultantes da isquemia de estruturas parenquimatosas ao nível do núcleo do hipoglosso.
Certo, então agora estamos vendo um corte sagital do tronco encefálico através da linha média. Esse corte vai nos ajudar a nos orientarmos nas próximas ilustrações. Nessa imagem, podemos ver o núcleo do nervo hipoglosso destacado em verde. Lembre-se que o tronco encefálico pode ser dividido anatomicamente em mesencéfalo, ponte e bulbo. A parte anterior do tronco encefálico contém o maior número de nervos cranianos, como você pode ver aqui, enquanto a parte posterior é o lado onde encontramos o assoalho do quarto ventrículo.
Então vamos fazer um corte aqui ao nível do núcleo do nervo hipoglosso de uma perspectiva sagital mediana. Observe que se fizermos esse corte, ainda conseguiremos ver uma parte do quarto ventrículo. Eu espero que isso te ajude a se orientar quando começarmos a ver nossos cortes transversais. Além disso, podemos ver que nossa linha de dissecção cruza vários núcleos de nervos cranianos. E também há um outro núcleo na imagem que vai nos ajudar a identificar qual é a região anterior dos nossos cortes: o núcleo olivar, esse grande núcleo destacado em verde na sua tela.
Agora que esclarecemos alguns conceitos básicos com os quais vamos nos deparar ao longo da nossa videoaula, podemos seguir em frente para aprender tudo sobre o corte transversal ao nível do nervo hipoglosso.
O primeiro contato com um corte transversal do tronco encefálico pode ser bastante assustador, principalmente quando você tenta se lembrar de cada estrutura em um nível específico. Por isso, é essencial focar primeiro nas estruturas maiores. Será mais fácil se lembrar delas como pontos de referência mais tarde.
Por exemplo, anteriormente, podemos usar as pirâmides do bulbo, ou o trato piramidal, e os núcleos olivares como pontos de referência. O lemnisco medial está na linha média, como você pode ver, e o núcleo espinal do nervo trigêmeo está localizado lateralmente. Para evitar confusão, por enquanto não vamos mencionar individualmente cada um dos núcleos presentes no assoalho do quarto ventrículo - vamos fazer isso um pouco mais tarde. Em vez disso, por enquanto vamos chamar o grupo todo de substância cinzenta central. O núcleo do nervo hipoglosso está localizado neste aglomerado central de substância cinzenta, e você pode ver o nervo destacado na imagem a seguir.
Então agora que definimos as estruturas que vamos usar como pontos de referência no restante da nossa videoaula, vamos dar uma olhada nas estruturas localizadas nas proximidades de cada uma delas, assim como suas funções.
Nesta imagem estamos vendo um corte transversal do bulbo, mostrando o trato piramidal destacado em verde. Como eu mencionei anteriormente, vamos usar esse trato como um ponto de referência para as estruturas que vamos ver a seguir. Como você pode ver, o trato piramidal é um par de fibras nervosas que se origina na camada de células piramidais do córtex cerebral e termina em diferentes pontos do sistema nervoso central. Aqui nós podemos identificar dois grandes tratos neurais que são considerados partes do trato piramidal. Um deles é o trato corticonuclear, que contém fibras que terminam no tronco encefálico, e o outro é o trato corticoespinal, que termina em diferentes níveis da medula espinal. As fibras do trato corticoespinal têm uma disposição somatotópica, sendo que as fibras mais laterais conduzem impulsos nervosos para gerar os movimentos da região medial do braço e do pescoço.
Agora que já estamos familiarizados com o trato piramidal, vamos seguir em frente e ver esse núcleo de substância cinzenta localizado bem em frente a ele. Este é o núcleo arqueado. Acredita-se que esse núcleo seja, na verdade, um núcleo pontino que se deslocou inferiormente. Também já está comprovado que esse núcleo está envolvido no controle da respiração.
Dois grupos de fibras se originam desse núcleo. O primeiro grupo é conhecido como estria medular do bulbo. Observe que não estamos falando da estria medular do tálamo, que é uma estrutura completamente diferente. O segundo grupo é formado pelas fibras arqueadas superficiais. Ambos os grupos se projetam, principalmente, para o cerebelo contralateral através do pedúnculo cerebelar inferior. No entanto, a estria medular segue pelo parênquima bulbar para chegar até o pedúnculo contralateral. Já as fibras arqueadas superficiais podem ser vistas claramente na nossa imagem - vamos falar sobre elas agora.
Podemos ver agora as fibras arqueadas superficiais destacadas na região lateral do nosso corte transversal do bulbo. Lembre-se que a maioria dessas fibras segue até o pedúnculo cerebral contralateral - então as fibras que estamos vendo destacadas à esquerda se originaram do núcleo direito, e vice-versa. Quando essas fibras se originam do núcleo arqueado, elas seguem superficialmente e medialmente em direção à fissura mediana anterior do bulbo, sempre anteriormente às pirâmides bulbares. Elas então cruzam sobre a fissura mediana e continuam seguindo superficialmente no lado contralateral do bulbo, onde podemos distinguí-las como esse feixe que estamos vendo destacado.
Finalmente, as fibras seguem para o pedúnculo cerebelar contralateral. Não se preocupe se você não estiver vendo os pedúnculos cerebelares aqui nesse corte - normalmente vamos conseguir vê-los só em cortes mais altos do bulbo. E bem, se estamos vendo as fibras arqueadas superficiais aqui, e eu acabei de falar que os pedúnculos cerebelares são encontrados em cortes mais altos do bulbo, então isso significa, é claro, que essas fibras seguem superiormente e posteriormente para chegar até os pedúnculos cerebelares inferiores em um nível mais alto.
Agora vamos esclarecer alguns conceitos gerais relacionados aos núcleos olivares antes de começar a discutí-los com mais detalhes. Você já deve ter ouvido falar do núcleo olivar superior e do núcleo olivar inferior. O núcleo olivar superior é uma região de substância cinzenta na ponte que está envolvida no processamento de sinais auditivos. E como nós não conseguimos vê-lo nesse corte do bulbo, não vamos falar sobre ele nesta videoaula.
Já o núcleo olivar inferior, que faz parte do complexo olivar inferior, é um conjunto de núcleos encontrados dentro de uma formação macroscópica do bulbo conhecida como oliva, ou corpos olivares. O complexo olivar inferior está intimamente relacionado com o cerebelo, então provavelmente está envolvido no processamento motor e sensitivo, na coordenação, assim como em tarefas cognitivas. Também já foi proposto que esse núcleo realize um ajuste fino dos movimentos independentemente da atenção ou consciência.
Os corpos olivares contêm três núcleos - o núcleo olivar primário, ou principal, que é esse núcleo sobre o qual acabamos de falar e que usamos como um ponto de referência; e dois núcleos acessórios, um medial, localizado entre o núcleo olivar primário e o trato piramidal, e um posterior ou dorsal, localizado atrás da face dorsal do núcleo primário.
Estamos vendo agora o núcleo olivar primário, do complexo olivar inferior. Se você prestar bastante atenção, verá que ele tem um formato irregular que se destaca quando comparado a outros núcleos de substância cinzenta do bulbo. Ele é denteado e, se você já estudou o cerebelo, o formato do núcleo realmente lembra o núcleo denteado do cerebelo. E se você está vendo esse núcleo pela primeira vez agora, pode ser que ele lembre uma folha de carvalho. Observe que o hilo do núcleo está direcionado medialmente.
Agora vamos mudar o nosso foco para todos aqueles feixes de fibras que emergem da margem medial do núcleo. Essas fibras são conhecidas coletivamente como trato olivocerebelar. Se você observar essas fibras de perto, vai ver que elas seguem em direção à linha média, onde decussam - ou seja, cruzam para o outro lado. A partir daí elas se juntam a um outro grupo de fibras chamadas de fibras arqueadas internas. Depois, seguem superiormente e posteriormente para entrar no cerebelo através do pedúnculo cerebelar inferior, em um nível um pouco acima no bulbo.
Logo atrás do núcleo olivar primário também encontramos um outro núcleo do complexo olivar inferior: o núcleo olivar acessório posterior, ou dorsal.
Agora, no corte anterolateral, podemos ver o trato tegmental central. Este é um trato complexo que contém vários outros tratos, cada um com uma função diferente. Acredita-se que o trato tegmental central é constituído por fibras aferentes e eferentes dade formação reticular; por axônios ascendentes do núcleo solitário, que terminam no núcleo ventral posteromedial do tálamo; e por fibras descendentes do núcleo rubro do mesencéfalo, que seguem para o complexo olivar e para a medula espinal.
Se a gente procurar o trato tegmental central em cortes mais altos do tronco encefálico, vamos encontrá-lo próximo à linha média e ao lemnisco medial. Mas como estamos em um nível relativamente baixo do bulbo, vamos encontrar o trato diretamente posterior e lateral ao complexo olivar inferior. Podemos inferir que existe alguma interação neural ocorrendo aqui entre essas duas estruturas, principalmente quando levamos em consideração o componente rubro-olivar do trato tegmental central.
O núcleo reticular lateral pode ser encontrado na região lateral do bulbo, ao nível do nervo hipoglosso, e posterior e lateralmente ao complexo olivar inferior. Esse núcleo recebe informações tanto de estruturas cerebrais superiores quanto da medula espinal, e transmite essas informações para o cerebelo ipsilateral. Acredita-se que esse núcleo esteja envolvido na regulação da função motora juntamente com o cerebelo, mas o mecanismo exato através do qual o núcleo realiza esta função ainda é incerto.
Vamos seguir agora para a região da linha média do nosso corte, onde vamos abordar as estruturas anatômicas em uma direção que vai da linha média até a região mais lateral. Vamos começar com o lemnisco medial. O lemnisco medial é uma estrutura de substância branca que, nesse nível do nervo hipoglosso, pode ser encontrado na linha média, atrás do trato piramidal e da decussação do trato olivocerebelar. Ele é formado por axônios altamente mielinizados que pertencem a uma via maior, conhecida como via da coluna dorsal-lemnisco medial.
A via da coluna dorsal-lemnisco medial conduz informações sobre tato fino, vibração, discriminação entre dois pontos e propriocepção da pele e das articulações até o núcleo ventral posterolateral do tálamo. O lemnisco medial contém axônios de segunda ordem dessa via, que se originam nos núcleos grácil e cuneiforme - dois núcleos localizados na substância cinzenta central da região posterior do bulbo. Esses núcleos projetam feixes de fibras que cruzam a linha média e formam o lemnisco medial contralateral. Vamos falar sobre esses núcleos daqui a pouco. Por enquanto, vamos destacar um outro fato interessante.
Você já deve ter percebido que estamos vendo um corte do tronco encefálico justamente no nível onde ocorre a decussação dos lemniscos. É por isso que os dois lemniscos mediais podem ser vistos tão próximos um do outro, e tão próximos da linha média. Se você for ver cortes mais altos do tronco encefálico, vai perceber que os lemniscos mediais se afastam progressivamente da linha média até chegar no mesencéfalo, quando então podem ser localizados em sua região lateral.
O fascículo longitudinal medial é um pequeno trato compacto próximo à linha média. Ele está localizado anteriormente à substância cinzenta, mais especificamente anteriormente ao núcleo do nervo hipoglosso, que vamos ver mais adiante. Nesse corte do bulbo, o fascículo longitudinal medial está deslocado posteriormente pela decussação dos lemniscos mediais e pelo trato piramidal. Mas, na verdade, mesmo em cortes mais altos do tronco encefálico esse fascículo pode ser encontrado bem próximo à linha média e à substância cinzenta central. O fascículo longitudinal medial contém fibras que conectam os núcleos dos nervos relacionados com o movimento do bulbo ocular. Ele também contém fibras dos núcleos vestibulares, que informam sobre a posição da cabeça. Assim, ajuda na integração e coordenação dos movimentos da cabeça e dos olhos.
Finalmente, o fascículo longitudinal medial contém fibras de um trato de substância branca descendente, conhecido como trato vestibuloespinal. Esse trato segue até a medula espinal cervical para inervar os músculos do pescoço e dos membros superiores.
Seguindo lateralmente, destacamos agora um pequeno núcleo isolado no meio dos tratos de substância branca, o núcleo ambíguo. Da próxima vez que for localizar esse núcleo, procure a substância branca atrás do complexo olivar inferior. Sabe-se que o núcleo ambíguo contém grandes neurônios que inervam músculos do palato mole, da faringe e da laringe, que estão fortemente associadas com a fala e a deglutição. Alguns desses neurônios fazem parte do nervo glossofaríngeo, enquanto outros fazem parte do nervo vago. Também há um pequeno grupo de neurônios parassimpáticos no núcleo ambíguo que fazem parte do nervo vago e inervam o coração.
Finalmente, passando para a parte mais lateral, estamos vendo destacado o núcleo espinal do nervo trigêmeo. Para aqueles que ainda não conhecem o nervo trigêmeo muito bem, é importante você saber que o núcleo desse nervo se estende por quase todo o tronco encefálico e as partes mais altas da medula espinal cervical.
A região do núcleo do trigêmeo que podemos ver nesse corte do bulbo é conhecida como núcleo espinal do nervo trigêmeo. Essa parte do núcleo recebe informações sobre tato grosseiro, dor e temperatura da face ipsilateral. Além do nervo trigêmeo, os nervos facial, glossofaríngeo e vago também conduzem informações sobre dor de diferentes regiões até o núcleo. Todas essas informações que chegam ao núcleo espinal do trigêmeo são transmitidas por fibras do trato espinal do nervo trigêmeo, que está localizado anterolateralmente ao núcleo.
Agora vamos discutir a substância cinzenta central do nosso corte transversal do encéfalo. Como você pode ver, existem vários núcleos e tratos de substância branca nesse corte. Vamos abordar cada uma dessas estruturas partindo da linha média em uma direção posterior e lateral.
A primeira estrutura que vamos ver é o núcleo do nervo hipoglosso. Como você pode ver, esse núcleo está localizado bem perto da linha média - o que também acontece com vários outros núcleos motores. Além disso, ele também se encontra posteriormente ao fascículo longitudinal medial. Se você prestar bastante atenção, verá as fibras do nervo hipoglosso se originando do núcleo.
Agora falando sobre o nervo hipoglosso propriamente dito. O nervo hipoglosso é o décimo segundo nervo craniano. Como você pode ver, suas fibras seguem lateralmente às estruturas da linha média, separando o fascículo longitudinal medial e o lemnisco medial dos lados laterais do bulbo, onde se localizam o núcleo ambíguo e o complexo olivar. Observe que conforme as fibras se aproximam da superfície ventral do bulbo, elas giram lateralmente para sair dele em um sulco, entre o trato piramidal e o complexo olivar. Esse sulco é conhecido como sulco anterolateral.
Vamos passar agora para o fascículo longitudinal posterior, um trato de substância branca localizado na região posterior do tegmento do tronco encefálico, bem próximo ao assoalho do quarto ventrículo. Observe também que esse fascículo está localizado atrás do núcleo do nervo hipoglosso e em frente ao núcleo dorsal do nervo vago, que vamos ver a seguir. O trato contém axônios mielinizados que permitem a comunicação entre o hipotálamo e núcleos do sistema nervoso autônomo presentes no sistema nervoso central.
Acredita-se que o fascículo longitudinal posterior inerve, no bulbo, centros relacionados à frequência cardíaca, pressão arterial e controle da respiração, assim como alguns núcleos parassimpáticos do nervo vago. De fato, podemos ver que esse trato está localizado bem próximo a alguns núcleos vagais. O trato segue até a extremidade inferior da medula espinal, inervando centros simpáticos toracolombares e centros parassimpáticos lombossacrais.
Logo atrás e um pouco mais lateral ao fascículo longitudinal posterior, também bem próximo ao assoalho do quarto ventrículo, encontramos o núcleo dorsal do nervo vago. Como poderíamos esperar, esse núcleo recebe informações do hipotálamo através do fascículo longitudinal posterior, mas também do núcleo do trato solitário. Ele atende principalmente às funções parassimpáticas do nervo vago no trato gastrointestinal, nos pulmões e em outros órgãos torácicos e abdominais inervados pelo nervo.
O núcleo do trato solitário se localiza lateralmente e posteriormente ao núcleo dorsal do nervo vago. Esses núcleos estão presentes, quase sempre, de forma coexistente - o que significa que, se você encontrar um deles em um corte transversal, muito provavelmente o outro vai estar bem próximo. E, é claro, ele também está intimamente relacionado com o trato presente em seu nome, o trato solitário. O núcleo processa informações sensitivas viscerais da faringe, do esôfago e do trato gastrointestinal abdominal. Também existem evidências que sugerem que o núcleo também processe informações dos sistemas respiratório e cardiovascular. Suas vias eferentes se projetam para o núcleo ventral posteromedial do tálamo - que é o núcleo associado à gustação - através do lemnisco medial. Axônios do núcleo talâmico então se projetam para o córtex motor e sensitivo e para o córtex insular.
O trato solitário se encontra à frente de seu núcleo, e lateralmente ao núcleo dorsal do nervo vago e ao fascículo longitudinal posterior. Esse trato, que podemos ver em toda a extensão do bulbo, é composto por fibras aferentes viscerais gerais dos nervos vago e glossofaríngeo, e por fibras gustativas dos nervos facial, glossofaríngeo e vago. O trato solitário conduz todas essas fibras até o núcleo do trato solitário.
Seguindo um pouco mais lateralmente, estamos vendo agora o núcleo grácil, que é um dos núcleos da via da coluna dorsal-lemnisco medial. O outro núcleo dessa via é o núcleo cuneiforme. O núcleo grácil recebe fibras do trato de mesmo nome que, como você deve ter imaginado, está localizado na coluna posterior da medula espinal. E como você já deve saber, a coluna posterior conduz informações relacionadas ao tato fino e à propriocepção. Ou seja, o trato ou fascículo grácil, estando localizado na coluna posterior da medula, conduz informações de tato e propriocepção, mais especificamente da região inferior do corpo, até o núcleo grácil. Esse núcleo então processa a informação e a transmite superiormente, através do lemnisco medial, até o núcleo ventral posterolateral do tálamo. Assim, podemos dizer que o núcleo contém neurônios sensitivos de segunda ordem.
Esse grande núcleo próximo ao núcleo grácil é conhecido como núcleo cuneiforme, que acabamos de mencionar. Ele tem uma função muito semelhante à do núcleo grácil, mas transmite as informações de tato fino e propriocepção da região superior do corpo, mais especificamente, de regiões acima do nível de T6 da medula. A exceção são as regiões da face e da orelha, cujas informações são processadas pelo núcleo do nervo trigêmeo.
As informações de tato fino e propriocepção da região superior do corpo e dos membros superiores, processadas pelo núcleo cuneiforme, são transmitidas, através do lemnisco medial, pelos axônios dos neurônios de segunda ordem, até o núcleo ventral posterolateral do tálamo.
Bem, acabamos de falar que os axônios dos neurônios de segunda ordem dos núcleos grácil e cuneiforme seguem pelo lemnisco medial até o tálamo. Esses axônios têm que chegar até o lemnisco medial de alguma forma. E se você imaginou que esse grupo de fibras aqui, que conecta o núcleo cuneiforme à linha média e ao lemnisco medial, é o trajeto que esses axônios fazem, você está absolutamente certo! Mas pode não estar claro na imagem que essa é uma via de substância branca que recebe o nome de fibras arqueadas internas. De fato, elas também contêm axônios oriundos do núcleo grácil.
Para resumir: as fibras arqueadas internas são os axônios dos neurônios de segunda ordem dos núcleos grácil e cuneiforme, que seguem em direção à linha média do bulbo e então cruzam para o outro lado, formando a decussação dos lemniscos.
Para terminar esta videoaula, vamos falar sobre uma síndrome que ocorre quando acontece um evento isquêmico a nível do nervo hipoglosso. Se você já tiver estudado a vascularização do tronco encefálico, deve se lembrar que o bulbo é vascularizado por ramos das artérias vertebrais, tais como a artéria espinal anterior, que você pode ver destacada nessa imagem, assim como por ramos das artérias cerebelares inferiores posteriores, conhecidos como artérias espinais posteriores.
E já que o objetivo dessa videoaula não é te ensinar a vascularização do bulbo, vamos seguir em frente para discutir a síndrome isquêmica que eu mencionei agora há pouco.
A síndrome de Dejerine, também conhecida como síndrome bulbar medial, é causada por uma disfunção das estruturas próximas à linha média do bulbo por um insulto isquêmico - isto é, por um comprometimento ou perda da sua vascularização. Esse comprometimento pode acontecer, por exemplo, por causa de uma obstrução da artéria espinal anterior. Mas não confunda essa síndrome com a síndrome de Dejerine-Roussy, que é causada por uma isquemia no tálamo.
Agora que já esclarecemos alguns termos e alguns pontos básicos sobre a anatomia vascular da região, vamos tentar compreender a apresentação clínica da síndrome bulbar medial com base na anatomia do nosso corte transversal do bulbo.
Se olharmos para a linha média do corte, vamos ver os tratos piramidais, os tratos olivocerebelares, os lemniscos mediais e os fascículos longitudinais mediais, assim como os núcleos e as fibras do nervo hipoglosso. Uma obstrução de toda a artéria espinal anterior comprometeria ambos os lados do bulbo, dando sintomas sensitivos e motores bilaterais - mas esse é um evento raro. O que acontece mais comumente é a oclusão de um ramo da artéria espinal anterior que se distribui para um dos lados do bulbo - e aqui podemos ver um exemplo de comprometimento isquêmico do lado direito do bulbo.
Baseado na anatomia dessa região, podemos esperar os seguintes sinais e sintomas. Quando o paciente tenta colocar a língua para fora, a lesão do nervo hipoglosso gera um desvio da língua para o lado acometido devido à fraqueza muscular ipsilateral. A lesão do trato piramidal causa fraqueza dos membros do lado contralateral ao infarto, já que, no nível do nervo hipoglosso, os tratos piramidais ainda não completaram sua decussação. A lesão do lemnisco medial causa perda do tato discriminativo, propriocepção consciente e sensibilidade vibratória, principalmente do lado contralateral ao infarto.
Lembre-se que estamos no nível da decussação dos lemniscos, ou seja, a lesão do lemnisco em si se apresenta como um déficit sensitivo contralateral, mas a lesão das fibras arqueadas internas adjacentes que ainda não cruzaram gera um déficit sensitivo ipsilateral.
Finalmente, você poderia dizer que haveria algum sintoma ocular decorrente da lesão do fascículo longitudinal medial. Mas isso dificilmente ocorre quando há um comprometimento isquêmico a esse nível do bulbo, já que os núcleos do nervo oculomotor se encontram bem mais acima no tronco encefálico.
É isso! Muito obrigado por permanecer comigo durante toda essa videoaula. Nós finalmente terminamos! Mas é claro que, antes de deixá-lo, vou resumir rapidamente o que nós aprendemos hoje.
No início da videoaula, nós dividimos esse corte transversal do bulbo em algumas partes para ficar mais fácil lembrar das estruturas encontradas em cada uma delas. Começamos discutindo sobre a região anterior. Nessa região, falamos sobre o trato piramidal, que contém axônios descendentes de neurônios motores superiores; apresentamos os núcleos olivares, que ajudam a controlar os movimentos independentemente da atenção ou consciência; e falamos também sobre os tratos associados a esses núcleos.
Discutimos brevemente algumas estruturas localizadas na região anterolateral do bulbo, como o trato tegmental central e o núcleo reticular lateral. Depois, falamos sobre importantes estruturas da linha média, destacando o lemnisco medial, que conduz os axônios dos neurônios de segunda ordem até o tálamo; e o fascículo longitudinal medial, que, nesse nível, conduz fibras que inervam os músculos do pescoço e dos membros superiores.
Em seguida discutimos as estruturas localizadas mais lateralmente no nosso corte, como o núcleo espinal do nervo trigêmeo e o trato associado a ele, que recebe e processa informações dos nervos cranianos V, VII, IX e X. Nesse momento, também falamos sobre o núcleo ambíguo - um núcleo motor associado aos nervos cranianos IX e X.
Nós então seguimos em frente com os núcleos da substância cinzenta central. Falamos que o mais medial desses núcleos é o núcleo do nervo hipoglosso. Também falamos sobre o núcleo dorsal do nervo vago, o trato solitário e o núcleo do trato solitário, assim como os núcleos grácil e cuneiforme - esses dois últimos partes da via sensitiva da coluna dorsal-lemnisco medial.
Finalmente destacamos que, a essa altura do bulbo, podemos ver a decussação dos lemniscos mediais. Nesse momento também falamos sobre as fibras arqueadas internas - fibras que emergem dos núcleos grácil e cuneiforme e dirigem-se para a linha média para formar os lemniscos.
E depois de discutir toda a anatomia do bulbo ao nível do nervo hipoglosso, apresentamos uma condição rara chamada de síndrome de Dejerine, para ajudar a consolidar nossos conhecimentos sobre a anatomia e a função das diferentes estruturas dessa região.
E, com isso, chegamos ao final da nossa videoaula. Obrigado por assistir e bons estudos!