Forames e fissuras do crânio
Nesse artigo vamos discutir os forames e fissuras localizados nos ossos do crânio. O termo forame faz referência a um orifício que permite a passagem de várias estruturas, como, por exemplo, nervos ou vasos.
O número de forames e fissuras localizados na base do crânio pode ser assustador! Entretanto, compreender esses forames e quais estruturas passam por eles pode tornar sua aprendizagem muito mais interessante.
Forame cego | Veias emissárias |
Forames olfatórios | Nervo olfatório |
Canal óptico | Nervo óptico (NC II) Bainha dural do nervo óptico Artéria oftálmica |
Fissura orbital superior | Nervo oculomotor (NC III) Nervo troclear (NC IV) Divisão oftálmica do nervo trigêmeo (NC V1) Nervo abducente (NC VI) Veias oftálmicas |
Forame redondo | Divisão maxilar do nervo trigêmeo (NC V2) |
Forame oval | Divisão mandibular do nervo trigêmeo (NC V3) Ramo meníngeo acessório da artéria maxilar Veia emissária Nervo petroso menor |
Forame espinhoso | Artéria meníngea média |
Forame lacerado | Nervo petroso maior |
Canal carotídeo | Artéria carótida interna |
Meato acústico interno | Nervo facial (NC VII) Nervo vestibulococlear (NC VIII) |
Forame jugular | Nervo glossofaríngeo (NC IX) Nervo vago (NC X) Parte descendente do nervo acessório (NC XI) Veia jugular interna |
Canal do hipoglosso | Nervo hipoglosso (NC XII) |
Forame magno | Tronco encefálico/medula espinal Artérias vertebrais Parte ascendente do nervo acessório (NC XI) |
Definições e terminologia
O termo forame vem da palavra em latim para “orifício”. Essencialmente, todos os forames do crânio são orifícios. Eles são vias de passagem através dos ossos cranianos que permitem que diferentes estruturas dos sistemas nervoso e circulatório entrem ou saiam do crânio.
Em português brasileiro, o termo definido pela terminologia anatômica é “forame”. Em português europeu, entretanto, o termo preferido é “buraco”. Ao longo deste artigo nós utilizamos a versão brasileira, mas nos nossos testes o termo “buraco” também é aceito como resposta correta.
As fissuras do crânio são muito semelhantes aos forames, ou seja, também são passagens pelos ossos. Elas são chamadas de fissuras simplesmente porque são orifícios com um formato diferente, possuindo um aspecto semelhante a uma fenda. Além disso, elas tipicamente estão localizadas entre duas estruturas anatômicas distintas. Por exemplo, a fissura orbital superior se encontra entre as asas maior e menor do osso esfenoide. Para visualizar a diferença entre os forames e as fissuras você pode comparar o formato do forame oval com o da fissura orbital superior. O forame oval é menor e arredondado, enquanto a fissura orbital superior é alongada e estreita.
Além de forames e fissuras, estruturas contendo os termos canal, hiato ou meato nos seus nomes também são orifícios no crânio.
Agora é hora de lapidar seus conhecimentos sobre a anatomia do crânio. Experimente nossa apostila de testes sobre os ossos cranianos!
Estratégias de aprendizagem
Quando se estuda os forames e fissuras do crânio, ou qualquer outro assunto em anatomia, é melhor dividir as estruturas em grupos. Uma forma de fazer isso é aprender os forames e as fissuras de acordo com os ossos do crânio onde são encontrados. Uma outra forma é aproveitar a divisão que já existe da base do crânio em três diferentes depressões conhecidas como fossas (fossa anterior, fossa média e fossa posterior), e utilizá-la para organizar os forames e fissuras cranianos. Nós vamos usar essa segunda estratégia ao longo deste artigo.
Além disso, muitos dos forames e fissuras do crânio servem como passagem para os nervos cranianos, então pode ser útil começar estudando a parte anterior do crânio e seguir posteriormente, de forma a seguir a ordem de numeração dos pares cranianos de uma maneira lógica e intuitiva.
Revisão dos ossos e das fossas do crânio
Antes de começarmos nossa discussão sobre os forames e fissuras, vamos rever brevemente os ossos e fossas que formam a base do crânio. A fossa craniana anterior é formada por partes dos ossos frontal, etmoide e esfenoide. A fossa craniana média é formada por partes dos ossos esfenoide, temporal e parietal. A fossa craniana posterior consiste principalmente em partes dos ossos temporal e occipital, e por partes menores dos ossos esfenoide e parietal.
Se você ainda precisa de uma revisão mais detalhada, confira nossa unidade de estudos e nosso teste personalizado sobre os ossos do crânio.
Forames e fissuras da fossa craniana anterior
Há apenas dois forames que devem ser mencionados na fossa anterior do crânio, mas um deles é, na verdade, um grupo de forames que está relacionado ao primeiro par craniano.
- Forame cego: é o mais anterior dos orifícios da base do crânio. Encontra-se no osso frontal, anterior ao osso etmoide. Permite a passagem de uma veia emissária que vem da cavidade nasal e drena para o seio sagital superior, que é parte do sistema de drenagem venosa do encéfalo. Veias emissárias são veias que drenam sangue de fora da cavidade craniana (nesse caso, da cavidade nasal) para dentro do crânio, através de forames. Um ponto interessante sobre essa veia emissária em particular é que ela pode ser uma rota para disseminação de infecções do nariz para o interior do crânio.
- Forames olfatórios da placa cribiforme: esses orifícios são uma parte importante do trajeto do primeiro nervo craniano (CN I), o nervo olfatório. Terminações nervosas no teto das cavidades nasais, responsáveis pelo sentido do olfato, passam através destes orifícios na placa cribriforme do osso etmoide. Essas terminações nervosas então se unem dentro da cavidade craniana, acima da placa cribriforme, para formar o bulbo olfatório, e em seguida o trato olfatório, que conduz informações sobre o olfato para o cérebro.
Forames e fissuras da fossa craniana média
De todas as três fossas do crânio, a fossa média é a que contém maior número de orifícios. Eles estão listados abaixo:
- Canal óptico: localizado na asa menor do esfenoide, logo anterior e medial ao processo clinoide anterior desse mesmo osso. O canal óptico é uma via de passagem entre o crânio e a órbita para duas estruturas muito importantes: a artéria oftálmica, que irriga a retina, e o segundo nervo craniano (NC II), o nervo óptico, junto com sua bainha de revestimento dural. O nervo óptico conduz informações visuais do olho para serem interpretadas no cérebro.
- Fissura orbital superior: essa fenda na fossa craniana média, que se encontra imediatamente posterior e lateral ao canal óptico, pode ser melhor visualizada se observada de uma perspectiva anterior, já que situa-se na parte posterior da cavidade orbitária. Como mencionado anteriormente, as fissuras geralmente estão localizadas entre duas estruturas anatômicas, e, nesse caso, a fissura orbital superior está localizada entre as asas maior e menor do esfenoide. Superiormente à fissura pode-se observar o canal óptico, mencionado anteriormente. Importantes estruturas passam pela fissura orbital superior, cursando entre o crânio e a órbita. O nervo oculomotor (NC III) inerva quatro dos seis músculos que movimentam o globo ocular. O nervo troclear (NC IV) e o nervo abducente (NC VI) inervam os outros dois músculos envolvidos na movimentação do olho. A divisão oftálmica do nervo trigêmeo (NC V1) também cursa pela fissura orbital superior, conduzindo informações sensitivas da fronte e das partes da face próximas aos olhos para o encéfalo. As últimas estruturas que passam por essa fissura são as veias oftálmicas.
- Forame redondo: esse pequeno orifício está localizado na base do crânio, posteriormente ao canal óptico e à fissura orbital superior. Ele permite a passagem da divisão maxilar do nervo trigêmeo (NC V2), também conhecida como nervo maxilar, que entra no crânio levando informação sensitiva da pele que recobre a maxila (ou seja, da região abaixo dos olhos até o lábio superior).
- Forame oval: este orifício com formato oval se encontra posterior e lateralmente ao forame redondo. O forame oval constitui a via de passagem para a última divisão do nervo trigêmeo, conhecida como nervo mandibular (NC V3), ou divisão mandibular do nervo trigêmeo. O nervo mandibular entra no crânio pelo forame oval, trazendo informações sensitivas da face e da pele que recobre a mandíbula. Pelo forame ainda passam, às vezes, o nervo petroso menor (um ramo do nervo glossofaríngeo, que é o nono par craniano e inerva a glândula parótida), além de uma veia emissária e o ramo acessório meníngeo da artéria maxilar.
- Forame espinhoso: este forame é o menor e mais lateral dentre os orifícios encontrados na fossa craniana média, e encontra-se posterior e lateralmente ao forame oval. Ele permite que a artéria meníngea média entre no crânio. A artéria meníngea média (um ramo da artéria maxilar, que por sua vez é ramo da artéria carótida externa) irriga a dura-máter, que é uma membrana meníngea que reveste o encéfalo.
- Forame lacerado: também conhecido pelo seu nome em latim (forame lacerum), está localizado posterior e medialmente ao forame oval, e pode ser preenchido por cartilagem. Ainda assim, permite a passagem do nervo petroso maior, um ramo do nervo facial, que é o sétimo par craniano. Fornece ainda inervação para glândulas localizadas acima do nível da boca, como por exemplo a glândula lacrimal, próxima aos olhos, que está relacionada à produção das lágrimas.
- Canal carotídeo: situa-se imediatamente posterior e lateral ao forame lacerado. Esse orifício permite a entrada, no crânio, da artéria carótida interna, um dos vasos mais importantes na irrigação do cérebro. Ramos da artéria carótida interna também irrigam o olho, as demais estruturas da cavidade orbitária e a fronte.
Forames e fissuras da fossa craniana posterior
Na fossa posterior do crânio há quatro orifícios importantes. Eles serão listados abaixo respeitando-se a ordem numérica dos pares cranianos que entram e/ou saem do crânio através das suas aberturas. Entretanto, é importante estar atento também à localização de cada forame e fissura em relação ao forame magno, o maior de todos os orifícios do crânio.
- Meato acústico interno (meato = passagem): excetuando-se o forame magno, este é o mais anterior dos orifícios da fossa craniana posterior. Ele constitui uma das extremidades de uma estrutura que abriga nosso aparato de audição e equilíbrio. A outra extremidade dessa estrutura é formada pelo meato acústico externo, que, na verdade, é a abertura da nossa orelha! Há dois nervos cranianos que entram no crânio através do meato acústico interno: o nervo facial (NC VII) e o nervo vestibulococlear (NC VIII). O nervo facial possui uma ampla gama de funções, incluindo a inervação dos músculos da expressão facial, a condução de impulsos sensitivos especiais relacionados ao paladar, originados na língua, dentre outras. O nervo vestibulococlear conduz informações sensitivas provenientes da cóclea (parte do nosso aparelho auditivo) e do sistema vestibular, ambos localizados nas orelhas.
- Forame jugular: o forame jugular também é fácil de encontrar, já que seu formato, na verdade, é mais parecido com uma fissura do que com os orifícios mais arredondados que são encontrados na fossa posterior. Pelo forame jugular passam os nervos glossofaríngeo (NC IX), vago (NC X) e acessório (NC XI). A função do nervo glossofaríngeo, como seu próprio nome sugere, é inervar as estruturas da língua (“glossa” é o termo grego para língua) e da faringe. O nervo vago, nomeado por causa de seu trajeto vago e tortuoso, inerva muitos órgãos na cavidade abdominal. O nervo acessório (algumas vezes chamado de nervo espinal acessório) é um nervo craniano diferente, já que tem origem nos segmentos superiores da parte cervical da medula espinal. Ele então sobe, entra no crânio através do forame magno, e em seguida sai novamente através do forame jugular para inervar dois músculos no pescoço, o esternocleidomastóideo e o trapézio. Por fim, a veia jugular interna, que drena parte do sangue da cabeça e do pescoço, também sai do crânio através do forame jugular, cursando inferiormente até terminar na veia braquiocefálica, que por sua vez drena para a veia cava superior em direção ao coração.
- Canal do hipoglosso: esse orifício é o mais próximo do forame magno. Ele permite a passagem do décimo segundo par craniano, o nervo hipoglosso. Assim como o glossofaríngeo, o nervo hipoglosso está associado à língua, e fornece inervação para quase todos os seus músculos.
- Forame magno: é impossível não encontrar esse forame! O nome em latim significa “grande orifício”, e ele precisa ser relativamente grande, para permitir a passagem da extremidade inferior do tronco encefálico e da parte superior da medula espinal. O forame magno também permite que as artérias vertebrais entrem no crânio. Essas artérias cursam superiormente de cada lado da coluna vertebral para entrar no crânio e fornecerem outra importante fonte de irrigação sanguínea para o encéfalo.
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Nota clínica
Síndrome do forame jugular
A síndrome do forame jugular, também conhecida como síndrome de Vernet, é um distúrbio que envolve a paralisia dos nervos glossofaríngeo, vago e acessório (nervos cranianos IX a XI), bem como, algumas vezes, do nervo hipoglosso (NC XII).
A síndrome é causada, mais frequentemente, pela compressão dos nervos mencionados acima por alguma massa no forame jugular (por exemplo, uma lesão que se origina ou se estende até a fossa jugular). Alguns exemplos incluem os paragangliomas (tumores glômicos jugulares), meningiomas, schwannomas e/ou lesões inflamatórias.
Os sintomas da síndrome do forame jugular incluem:
- roquidão (disfonia)
- disfagia (dificuldade na deglutição)
- perda do reflexo do vômito
- paralisia dos músculos esternocleidomastóideo e trapézio
- redução da atividade da glândula parótida
- queda do palato mole
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