Linfócitos
O linfócito é um subtipo de leucócito (glóbulo branco), e é a principal célula do sistema imunológico. Todos os leucócitos são classificados em granulócitos e agranulócitos, e os linfócitos pertencem ao grupo dos agranulócitos.
Os linfócitos existem em grande número no sangue, na linfa e nos tecidos linfoides, como o timo, os linfonodos, o baço e o apêndice. Representam cerca de 30% de todos os leucócitos encontrados no sangue, sendo os agranulócitos mais comuns. Embora tenham aparência uniforme, os linfócitos têm funções distintas e podem ser agrupados, de acordo com a sua função, em linfócitos T (ou células T), linfócitos B (ou células B) e células natural killer (NK), também chamadas de células exterminadoras naturais.
Os linfócitos são as principais células funcionais do sistema imunológico, sendo responsáveis pela produção de anticorpos, pela morte mediada por células de células tumorais ou infectadas por vírus, e pela regulação da resposta imune.
Este artigo irá abordar a histologia e função dos linfócitos.
Definição | Células primárias do sistema imunológico que pertencem ao grupo de leucócitos agranulócitos |
Tamanho |
Pequenos: 6 a 15 µm de diâmetro Grandes: 15 a 30 µm de diâmetro |
Estrutura |
Pequenos: - Pequenos núcleos esféricos com cromatina condensada - Poucas organelas (mitocôndrias e ribossomos) e aparelho de Golgi pequeno - Grânulos azurófilos raros Grandes: - Grande núcleo indentado - Mais organelas, aparelho de Golgi desenvolvido, retículo endoplasmático rugoso pequeno - Mais citoplasma e grânulos azurófilos |
Classificação | Linfócitos B Linfócitos T Células natural killer (NK) |
Linfócitos B |
Atuação: Imunidade humoral Tipos: Plasmócitos e células de memória Função: Secreção de anticorpos, apresentação de antígenos, imunidade adquirida |
Linfócitos T |
Atuação: Imunidade celular Tipos: Linfócitos T citotóxicos, linfócitos T auxiliares (helper), linfócitos T reguladores (supressores) Função: Apoptose mediada por células de células neoplásicas ou infectadas, indução/supressão do sistema imune |
Células Natural Killer (NK) |
Atuação: Imunidade inata Função: Apoptose mediada por células de células neoplásicas ou infectadas |
Estrutura dos linfócitos
Os linfócitos são tipicamente pequenos, no entanto, podem assumir uma gama mais ampla de tamanhos em comparação com outros leucócitos. Os linfócitos encontrados no tecido linfático podem ser classificados em pequenos ou grandes, variando de 6 a 30 µm de diâmetro. Os linfócitos maduros que circulam no sangue são pequenos e têm tamanho semelhante aos eritrócitos, com diâmetro médio em torno de 6 a 15 µm.
Na microscopia de luz, os linfócitos pequenos apresentam grandes núcleos esféricos com cromatina condensada. O núcleo é circundado por uma fina borda azul e pálida, que consiste em uma quantidade mínima de citoplasma. Geralmente, nenhuma organela celular é visível nesses linfócitos, além de grânulos azurófilos ocasionais. Os linfócitos grandes têm um núcleo maior, com uma indentação, dando-lhe um aspecto em forma de rim ou feijão. Esses linfócitos também possuem mais citoplasma, com maior quantidade de grânulos azurófilos. Os grânulos azurófilos coram intensamente devido à abundância de enzimas lisossômicas, dando aos linfócitos sua aparência pontilhada.
Ao microscópio eletrônico, os linfócitos pequenos apresentam organelas esparsas, como mitocôndrias, polissomos e ribossomos livres. Além disso, essa técnica também pode revelar um par de centríolos e um pequeno aparelho de Golgi no centro do linfócito, próximo à reentrância do núcleo. Quando observados sob microscopia eletrônica, os linfócitos grandes apresentam um aparelho de Golgi mais desenvolvido e um maior número de mitocôndrias e ribossomos, além de um pequeno retículo endoplasmático rugoso.
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Tipos de linfócitos
Os linfócitos são subdivididos em 3 grupos funcionais com base em suas moléculas de superfície, chamadas de marcadores de cluster de diferenciação (ou marcadores CD).
Estes grupos são:
- Linfócitos B (células B)
- Linfócitos T (células T)
- Células natural killer (NK)
Linfócitos B
Os linfócitos B (células B) se originam e amadurecem na medula óssea, daí seu nome (B vem de bone marrow, ou medula óssea em inglês). Os linfócitos B estão envolvidos na imunidade humoral, pois produzem anticorpos em resposta a antígenos estranhos (bactérias inteiras ou seus fragmentos, vírus e parasitas). Os anticorpos produzidos pelos linfócitos B servem para se ligar e neutralizar esses patógenos, bem como para marcá-los para posterior apoptose mediada por células, realizada pelas células T e NK.
Além disso, os linfócitos B atuam como células apresentadoras de antígenos (APC, do Inglês antigen-presenting cells). Esse tipo de célula expressa em sua superfície celular o antígeno estranho ligado a uma proteína do complexo principal de histocompatibilidade (MHC, do Inglês major histocompatibility complex), em um processo chamado de apresentação de antígeno. Além das células B, os macrófagos e as células dendríticas também participam da apresentação de antígenos, e todos eles exibem os antígenos para um subtipo de células T, chamadas de células T auxiliares (células T helper), que serão discutidas mais adiante.
Os linfócitos B surgem de células-tronco hematopoiéticas pluripotentes. Após a sua maturação, eles se transformam em linfócitos B competentes, são liberados na corrente sanguínea e chegam até os linfonodos e o tecido linfóide do baço e dos tratos respiratório e gastrointestinal.
Os linfócitos B são ainda classificados em plasmócitos e linfócitos B de memória.
- Os plasmócitos produzem anticorpos que se ligam aos patógenos, bem como às células infectadas ou neoplásicas, marcando-as para posterior apoptose mediada por células.
- Os linfócitos B de memória têm como função memorizar cada antígeno específico que foi encontrado, permitindo a montagem de uma resposta imune forte e rápida na próxima vez que o mesmo patógeno for encontrado. Essa é a base da imunidade adquirida e o que explica a eficácia das vacinas.
Linfócitos T
Os linfócitos T (células T) estão envolvidos na imunidade mediada por células em resposta aos patógenos intracelulares (bactérias, vírus e parasitas), às células tumorais e, às vezes, aos implantes cirúrgicos.
Os linfócitos T originam-se das mesmas células-tronco hematopoiéticas pluripotentes que as células B e as outras células sanguíneas, localizadas na medula óssea. No entanto, os precursores dos linfócitos T migram da medula óssea para o timo, onde se diferenciam e amadurecem em linfócitos T funcionais, e é esse o motivo do seu nome (T de timo).
No timo, os linfócitos T em maturação passam por um extenso processo de seleção, no qual a maioria deles é destruído assim que se desenvolve, e apenas uma fração dessas células amadurece e migra para a corrente sanguínea. Isso acontece para garantir que apenas os linfócitos T que funcionem adequadamente sobrevivam. A disfunção nesse processo de seleção é a base de algumas doenças autoimunes, nas quais as células T dirigem erroneamente sua resposta para células e tecidos saudáveis do corpo.
Existem 3 tipos principais de linfócitos T com funções distintas, que são mediadas por suas moléculas de superfície:
- Os linfócitos T citotóxicos, caracterizados por moléculas de superfície CD8+, são os efetores primários da resposta imune mediada por células. Eles reconhecem e se ligam a antígenos de células hospedeiras neoplásicas ou infectadas por vírus. Quando um linfócito T citotóxico se liga à célula alvo, ele secreta linfocinas e perforinas que causam sua lise. Em alguns casos, os implantes cirúrgicos podem ser igualmente alvo dos linfócitos T citotóxicos, sendo essa uma das causas de rejeição de transplantes.
- Os linfócitos T auxiliares (ou linfócitos T helper) são caracterizados por moléculas de superfície CD4+, e servem para reconhecer antígenos estranhos apresentados a eles pelas células apresentadoras de antígenos (como macrófagos, linfócitos B e células dendríticas). Quando um linfócito T auxiliar se liga ao antígeno apresentado, ele é ativado e começa a produzir citocinas que influenciam a atividade de outras células do sistema imune. Essas citocinas estimulam a proliferação e a diferenciação de mais linfócitos T auxiliares, bem como a diferenciação de células B em plasmócitos.
- Os linfócitos T reguladores (supressores) também se caracterizam por moléculas de superfície CD4+, mas realizam uma função oposta a dos linfócitos T auxiliares. Os linfócitos T reguladores suprimem a resposta imune, inibindo a atividade e a diferenciação dos linfócitos T auxiliares e dos linfócitos B.
Células natural killer (NK)
As células natural killer (NK) originam-se das mesmas células-tronco hematopoiéticas pluripotentes que os linfócitos T e B. Elas se diferenciam e amadurecem principalmente na medula óssea, mas também nos tecidos linfoides secundários, como os linfonodos, o baço, as amígdalas e o timo.
Os linfócitos NK são os maiores subtipos linfócitos, com cerca de 15 µm de diâmetro. Essas células geralmente apresentam grandes grânulos em seu citoplasma que são facilmente visualizados ao microscópio óptico, razão pela qual esses linfócitos também são chamados de grandes linfócitos granulares.
As células NK fazem parte do sistema imunológico inato e são responsáveis por matar certas células infectadas por vírus e vários tipos de células tumorais. As células NK são chamadas de “exterminadoras naturais” porque, ao contrário das células T citotóxicas, elas não precisam ser ativadas para promoverem a morte de outra célula, permitindo uma resposta imune muito mais rápida.
As células NK reconhecem as células infectadas e neoplásicas detectando alterações ou a ausência das proteínas do complexo principal de histocompatibilidade (MHC), que são normalmente expressas por todas as células. Uma vez encontrado um alvo, as células NK liberam grânulos citotóxicos, que destroem a célula, ou liberam citocinas que desencadeiam a sua apoptose. Além disso, elas secretam interferon-gama (IFN-γ), uma citocina crucial para a imunidade inata e adquirida contra infecções virais e algumas bactérias e protozoários.
Notas clínicas
Linfoma
Os linfomas são tumores do sistema linfático que se desenvolvem a partir dos linfócitos. Os linfócitos proliferam-se de forma descontrolada ou não sofrem apoptose como o habitual. Os linfomas podem ser de crescimento lento ou mais agressivos, mas são todos considerados malignos, devido ao seu potencial de se espalhar facilmente para outras partes do corpo. A maioria dos linfomas surge das células B (até 80%), enquanto os restantes têm origem em células T e células NK.
Os sintomas do linfoma são inespecíficos e podem incluir fadiga, febre, sudorese noturna, perda de peso e linfadenopatia (ou aumento dos linfonodos).
Os linfomas podem ainda ser classificados em dois grandes grupos: linfomas Hodgkin e não-Hodgkin. A forma mais comum é o linfoma não-Hodgkin, responsável por cerca de 90% dos casos, enquanto o linfoma de Hodgkin ocorre em cerca de 10% dos casos. Definir o tipo de linfoma é essencial para escolher as opções de tratamento e determinar o prognóstico.
Linfocitose
A linfocitose é uma condição na qual o número absoluto de linfócitos circulantes no sangue está acima do normal. Isso pode ser diagnosticado através da avaliação do hemograma (exame de sangue que mostra as alterações na quantidade de células que compõem o sangue), mais especificamente de uma parte específica do hemograma, o leucograma. A linfocitose pode ser classificada em dois tipos:
- Linfocitose reativa ou secundária: é, em geral, benigna e de origem policlonal (com origem em diferentes tipos de linfócitos). As principais causas de linfocitose reativa são infecções, principalmente virais. Entretanto, a linfocitose reativa também pode ter causas não infecciosas, como doenças autoimunes ou uso de alguns fármacos.
- Linfocitose clonal ou primária: os linfócitos em número aumentado têm origem única, ou seja, derivam da clonagem de um mesmo linfócito. Pode ser sinal de uma doença linfoproliferativa (leucemia ou linfoma). Nesse caso, o diagnóstico definitivo é efetuado recorrendo a um esfregaço de sangue periférico e, potencialmente, a uma biópsia de medula óssea.
Linfopenia
A linfopenia (ou linfocitopenia) é uma condição oposta à linfocitose, na qual o número absoluto de linfócitos circulantes no sangue está diminuído. Ela pode ter uma origem hereditária, como em algumas imunodeficiências primárias, ou adquirida, como na desnutrição grave, na utilização de alguns fármacos (como glicocorticoides) e na síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS). Dependendo da gravidade, as pessoas com linfopenia podem apresentar infecções recorrentes.
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