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Como interpretar uma TC de abdome

TC do abdome normal
TC do abdome normal

A tomografia computadorizada (TC) é um dos métodos de imagem mais comumente utilizados na prática clínica, juntamente com a radiografia simples e a ressonância magnética (RM). Quando suspeita-se de um processo patológico na cavidade abdominal, a radiografia e a TC são os métodos de escolha, porque eles são rápidos, baratos, amplamente disponíveis, não invasivos e não exigem nenhum tipo de preparo especial do paciente.

A TC é uma técnica de imagem que usa feixes de raios-x para produzir imagens que mostram os tecidos em duas ou três dimensões, graças às diferenças nas suas densidades. A densidade das estruturas e expressa em Unidades Hounsfield (UHs), e reflete o nível de absorção dos feixes de raios-x pelas estruturas do corpo.

Informações importantes sobre a tomografia computadorizada
Definição A tomografia computadorizada é um método de imagem baseado em raios-x que gera imagens transversais ou "cortes" do corpo
Funcionamento A tomografia baseia-se na rotação rápida de um feixe estreito de raios-x direcionado para um paciente. Esse feixe produz sinais que são processados pelo software do aparelho.
Terminologia Hiperdenso - estruturas claras (brancas) - geralmente ossos
Hipodenso - estruturas escuras - geralmente ar
Isodenso - estruturas cinzas - líquidos ou partes moles

Este artigo irá explicar como interpretar uma TC de abdome com exemplos práticos.

Conteúdo
  1. Orientação e abordagem
  2. Anatomia tomográfica abdominal
    1. Parede abdominal
    2. Ossos
    3. Cavidade peritoneal
    4. Órgãos sólidos
    5. Órgãos ocos
    6. Vasos sanguíneos
  3. Referências
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Orientação e abordagem

Plano de orientação da TC

Antes de detalharmos a descrição das estruturas que são visíveis na TC de abdome, é importante sabermos como nos orientar ao interpretar este exame. Os estudos axiais (cortes transversais) são os mais frequentemente usados na prática clínica, mas quando necessário a TC pode produzir imagens em outros planos (sagital ou coronal). Para estudos axiais, você pode imaginar que está vendo o paciente através dos seus pés (ou seja, seu lado esquerdo é o lado direito do paciente estudado).

O aparelho de TC produz uma série destes cortes transveresais, que podem ser reformatados em uma imagem tridimensional. O aparelho permite anda o "janelamento" para identificação de diferentes estruturas. O termo janelamento se refere ao ajuste do contraste para modificar a aparência da imagem e destacar estruturas específicas. Para examinar estruturas abdominais, você pode alterar entre uma "janela óssea" e uma "janela de partes moles", dependendo de quais estruturas você quer estudar. Para uma abordagem completa da anatomia abdominal, é necessário passar pelos cortes de cranial (proximal) para caudal (distal) enquanto se examina as estruturas do início ao fim.

Quando se examina o abdome pela tomografia computadorizada, é importante usar uma abordagem sistemática. Isso significa que deve-se focar em um órgão de cada vez, e que todos os órgãos abdominais devem ser avaliados de maneira individual e completa. Além disso, quando um paciente possui uma condição clínica específica (por exemplo, uma fratura óssea), o radiologista não deve focar apenas na estrutura em questão, mas em todo o estudo. Essas técnicas minimizam a possibilidade de perda de pequenas anormalidades estruturais e achados incidentais que o paciente pode ter. Uma das abordagens recomendadas inclui os seguintes passos:

  1. Avalie as margens anatômicas da região.
  2. Identifique o nível do corte através de referências anatômicas: diafragma (T10-T11), tronco celíaco (T12), artéria mesentérica superior (L1), artérias renais (L2-L3), bifurcação aórtica (L4).
  3. Analise a cavidade peritoneal e o espaço peritoneal.
  4. Revise os órgãos dividindo-os em órgãos sólidos e órgãos ocos.

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Anatomia tomográfica abdominal

Parede abdominal

É comum que se comece a avaliação da TC pelas estruturas mais laterais, seguindo em direção à linha média. No caso do abdome, podemos começar analisando a linha externa que representa a pele e o tecido subcutâneo da parede abdominal. Medialmente à essa linha podemos identificar dois grupos de músculos da parede abdominal: os músculos anterolaterais e posteriores. No compartimento anterolateral três camadas de músculos (oblíquo externo, oblíquo interno e transverso do abdome) podem ser identificados junto com o reto abdominal e sua bainha. O gurpo posterior inclui o latíssimo do dorso, o psoas maior, o ilíaco, o eretor da espinha, o quadrado lombar e o psoas menor. Estes músculos estão incorporados ao redor das vértebras lombares. Se a parede abdominal estiver íntegra, a linha externa deverá ser inteiramente lisa.

Anteriormente, na linha média, a linha alba pode ser vista como uma fina banda que mantém unidas as duas metades do músculo reto abdominal. Se houver um alargamento do espaço entre as duas metades do músculo, avalie se trata-se de uma hérnia ou apenas de uma distensão da linha alba (diastase). Atenção especial deve ser voltada para a bainha do reto, já que traumas contusos podem causar rupturas das artérias epigástricas inferiores, levando a sangramento. Como a camada posterior da bainha do reto não está presente abaixo da linha arqueada, o sangue pode entrar facilmente em contato com o peritônio, causando peritonite.

Ossos

Após avaliar a parede abdominal, o exame deve continuar com a "janela óssea", que destaca as estruturas ósseas. Quando olhamos para a região abdominal superior, podemos identificar as costelas, de ambos os lados. Além disso, as vértebras lombares podem ser examinadas em detalhes, incluindo seus processos espinhosos. O posicionamento correto das vértebras na linha média e sua aparência lisa e hiperdensa na TC indica que sua anatomia está intacta. Quaisquer alterações dessas características podem indicar patologias ósseas (fraturas, deslocamentos ou lesões osteolíticas ou osteoblásticas).

Cavidade peritoneal

Ocasionalmente é possível identificar estruturas torácicas na TC de abdome (por exemplo, o coração e as bases dos pulmões). Ao avaliar a cavidade peritoneal, deve-se começar com as bases dos pulmões e seguir inferiormente usando uma "janela pulmonar". Enquanto se avalia a cavidade peritoneal o examinador deve prestar atenção a coleções aéreas anômalas, especialmente ao redor dos órgãos ocos. Caso haja coleções escuras empurrando os órgãos contra a parede abdominal deve-se suspeitar de pneumoperitônio. Em seguida deve-se identificar as estruturas peritoneais do abdome (omentos maior e menor, mesentério e recessos). O omento maior se estende da curvatura maior do estômago e do duodeno até o cólon transverso, enquanto o omento menor se estende entre o estômago e o fígado. Os mesentérios estão localizados entre os intestinos e a parede abdominal. Eles podem ser divididos em mesentério próprio (para o intestino delgado), mesocólon transverso (para o cólon transverso) e mesocólon sigmoide (para o cólon sigmoide). Na cavidade abdominal há vários recessos peritoneais (pregas de peritônio) localizadas ao redor do duodeno. Estes incluem os recessos duodenais superior e inferior, retroduodenal, paraduodenal, duodenojejunal e mesentericoparietal.

Além disso, os espaços intraperitoneais devem ser examinados em busca de líquido ou massas sólidas. Em seguida o espaço retroperitoneal deve ser identificado. Anatomicamente, esse é o espaço entre o peritônio e a fáscia transversal, que recobre os músculos da parede abdominal posterior. Normalmente, nem o peritônio nem a fáscia são visíveis à TC. Entretanto, focando nos músculos é possível definir a margem retroperitoneal posterior, e a superfície anterior dos rins (fáscia renal) pode ser usada como referência aproximada para a borda anterior.

Órgãos sólidos

Ao examinar os órgãos sólidos, é importante analisar suas dimensões, forma, textura (os órgãoes estão homogêneos ou heterogêneos?) e áreas de densidade anômala. Procure aumento do órgão ou formas estranhas. Tais alterações podem surgir por hemorragia, edema, efeito de massa de um tumor ou hematoma, deslocamento de vasos ou órgãos adjacentes. Além disso, meios de contraste podem ser usados para verificar o fluxo e o suprimento sanguíneo dos órgãos. Hipoperfusão pode levar a lesões teciduais irreversíveis, como necrose ou infartos.

Os órgãos sólidos incluem o fígado, a vesícula biliar, o baço, o pâncreas, as glândulas adrenais e os rins.

O fígado geralmente é o primeiro órgão sólido a ser explorado, já que é a estrutura mais proeminente na TC abdominal. A densidade normal do fígado é ligeiramente maior que a dos músculos e a do baço. O parênquima hepático deve ser sólido e homogêneo. Se for possível identificar os ductos biliares intra-hepáticos sem a utilização de meio de contraste, isso é sempre considerado um achado patológico. Os ducots extra-hepáticos normalmente são visíveis, e devem ser avaliados buscando dlatação e obstrução. Para examinar os vasos hepáticos e portais deve-se administrar contraste. Assim, as lesões hipervasculares (por exemplo, tumores), podem ser descobertas.

A vesícula biliar é preenchida por líquido (bile), e é hipodensa, se comparada ao fígado. Devemos prestar atenção à presença de cálculos, que podem se apresentar como estruturas hiperdensas (como ossos).

A característica mais importante do baço à tomografia computadorizada é a forma do órgão e a integridade da sua cápsula. O tamanho do baço pode variar entre os indivíduos, então para ter certeza de que o órgão está aumentado não se deve focar apenas no tamanho, mas também no formato do órgão. O baço normalmente possui uma superfície visceral côncava. Quando aumentado, essa concavidade se inverte, tornando-se convexa.

O pâncreas e as glândulas adrenais são frequentemente analisados em conjunto, já que se encontram ao mesmo nível no plano transversal. As margens do pâncreas devem ser distintas. Margens irregulares ou massas intraparenquimatosas podem indicar tumores ou pancreatite aguda. Avalie o tecido pancreático pesquisando sinais de massas sólidas, líquidas ou císticas. Em seguida, foque no ducto pancreático, que normalmente é hipodenso, e procure por dilatação ou obstrução. Confira se as glândulas adrenais contêm massas irregulares que possam estar relacionadas a tumores (por exemplo, feocromocitomas).

Os rins possuem forma elíptica. Você irá notar o sistema pielocalicinal (seio renal) hiperdenso, envolto pelo parênquima renal, que é hipodenso. Confira se há focos hiperdensos nos seios renais, já que esses podem indicar a presença de cálculos renais.

Não é possível diferenciar o córtex da medula renal, exceto se você utilizar meio de contraste e avaliar o fluxo sanguíneo ao longo dos vasos renais. Dessa forma você claramente irá identificar o córtex, altamente vascularizado (90% do fluxo sanguíneo renal) ou quaisquer outras massas hipervascularizadas (por exemplo, tumores).

Órgãos ocos

Os métodos de escolha para avaliação dos órgãos ocos geralmente são a endoscopia e a radiografia baritada. A TC pode também ser indicada em alguns casos que não forem resolvidos pelos estudos mencionados acima. Algumas destas indicações incluem: processos inflamatórios (por exemplo, apendicite) e lesões intramurais (por exemplo, úlceras ou pólipos).

Os órgãos ocos do abdome incluem o estômago e os intestinos. Ao analisar esses órgãos, concentre-se nas seguintes características:

  • A parede e o lúmen de cada parte do tubo digestivo.
  • A perviedade do lúmen. Se qualquer massa obstruir o intestino, suas partes proximais à massa irão aparecer dilatadas, e as partes distais à massa estarão colapsadas.
  • A distribuição das alças do intestino delgado. A mudança na distribuição das alças pode indicar certas anormalidades, como torsão, encarceramento e invaginações.
  • A integridade das haustrações do intestino grosso. O formato das haustrações pode ser alterado em várias doenças, como colites ulcerativas (perda completa, levando ao sinal do cano de chumbo), doença de Crohn (ulcerações segmentares) e carcinoma coloretal (sinal da "maçã mordida").

Vasos sanguíneos

Finalmente, os grandes vasos sanguíneos do abdome devem ser avaliados pela TC. Esses vasos geralmente incluem a aorta abdominal e a veia cava inferior. A aorta abdominal cursa retroperitonealmente, anterior aos corpos vertebrais, se estendendo desde o orifício aórtico do diafragma (ao nível de T12) até o nível da vértebra L4. Ela termina se dividindo em dois ramos terminais (as artérias ilíacas comuns direita e esquerda). A veia cava inferior cursa da confluênciad as veias ilíacas comuns, ao nível de L5, até o forame da veia cava, no diafragma (ao nível de T8).

Primeiro nós devemos conferir se seus diâmetros estão normais. A dilatação dos vasos indica um aneurisma da aorta abdominal (uma condição urgente) ou trombose da veia cava inferior.

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Kim Bengochea Kim Bengochea, Universidade de Regis, Denver
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