Botões gustativos
Já imaginou como seria sua vida se você não pudesse sentir o sabor de uma deliciosa fatia de pizza ou do seu pedaço de bolo favorito? Ou talvez você já tenha se perguntado por que sua comida tem um gosto tão bom?! Ou o que torna uma comida amarga ou azeda? As respostas para essas perguntas podem ser encontradas quando estudamos os botões gustativos localizados na sua cavidade oral.
Os botões gustativos são quimiorreceptores periféricos encontrados predominantemente no epitélio da superfície superior/dorsal da língua, palato mole, faringe, laringe e esôfago superior. Eles são órgãos gustativos (gosto [latim = gustus]), que transduzem estímulos gustativos químicos em sinais elétricos e os transmitem para um dos três nervos cranianos envolvidos no sentido do paladar. O nervo facial (ramo corda do tímpano), nervo glossofaríngeo e nervo vago – além do nervo lingual, auxiliam na transmissão da informação sensorial gustativa ao SNC.
Este artigo discutirá a anatomia e a função dos botões gustativos.
Definição | Órgãos sensoriais envolvidos no sentido do paladar |
Localização | Papilas linguais, palato mole, epiglote, laringe, faringe, esôfago superior |
Inervação | Nervo facial (corda do tímpano, nervo petroso maior), nervo glossofaríngeo, nervo vago |
Função | Transdução de estímulos químicos em um sinal nervoso |
Terminologia
Alguns estudantes e até alguns autores se confundem às vezes sobre os termos papilas linguais, papilas gustativas e botões gustativos. Por isso, antes de começarmos de fato a nossa discussão sobre os botões gustativos, vale a pena revisar a terminologia adequada para cada estrutura:
- Papilas linguais: elevações do epitélio da língua, que possuem diferentes formas e funções.
- Papilas gustativas: esse é o termo que gera mais confusão, visto que às vezes é utilizado como sinônimo de papilas linguais e outras vezes é utilizado como sinônimo de botões gustativos. Assim, os outros termos são preferíveis.
- Botões gustativos: órgãos microscópicos contendo quimiorreceptores localizados nas papilas linguais (exceto nas papilas do tipo filiforme).
Estrutura e localização
Os botões gustativos são órgãos sensoriais microscópicos contendo células quimiossensoriais que fazem sinapse com as fibras aferentes dos nervos gustativos. O número de botões gustativos na cavidade oral e no trato gastrointestinal superior está sujeito a um alto grau de variação entre cada indivíduo (variando entre 500 a 5000), enquanto o número de células em cada botão gustativo pode chegar a 150. Devido ao ambiente abrasivo da cavidade oral, as células gustativas têm alta capacidade regenerativa, com seu turnover médio sendo de 8 a 12 dias. No entanto, algumas dessas células podem permanecer ativas por muito mais tempo.
Existem quatro tipos de células nos botões gustativos:
- Células epiteliais gustativas do tipo I (semelhantes às células gliais): células de suporte. Essas células longas e fusiformes estendem-se do poro gustativo até a lâmina basal. As suas extremidades apicais podem estar envolvidas na transdução do sabor salgado, embora a literatura sobre este tema seja controversa.
- Células epiteliais gustativas do tipo II (receptoras): expressam receptores de proteína G para os sabores amargo, doce e umami. O umami é um dos cinco sabores básicos, encontrado em alguns aminoácidos. A palavra “umami” deriva do japonês e quer dizer “gosto saboroso e agradável". As células do tipo II secretam os neurotransmissores adenosina trifosfato (ATP) e acetilcolina (ACh).
- Células epiteliais gustativas do tipo III (pré-sinápticas): apresentam receptores para o sabor azedo. Elas secretam serotonina, ácido gama-aminobutírico (GABA) e neurotransmissores de norepinefrina.
- Células epiteliais/basais gustativas do tipo IV: encontradas na lâmina basal do epitélio. Acredita-se que sejam precursores indiferenciados ou imaturos das células epiteliais gustativas do tipo I-III.
As células gustativas são organizadas em estruturas epiteliais que têm o formato semelhante ao de um barril e, quando agrupadas, se assemelham ao botão de uma flor. Na parte superior de cada botão gustativo, há uma abertura conhecida como poro gustativo, um funil cheio de líquido no qual estão localizadas extensões (microvilosidades) das células gustativas, chamadas de pelos gustativos. Cada célula epitelial gustativa fica em contato com as terminações do nervo gustativo mais próximo (ramos dos nervos facial, glossofaríngeo ou vago).
Os botões gustativos estão localizados principalmente nas papilas linguais (exceto nas papilas do tipo filiforme), mas também podem ser encontrados na porção superior do trato gastrointestinal, em regiões como o palato mole, a epiglote, a orofaringe e o esôfago superior.
Saiba mais sobre as papilas linguais nesta unidade de estudo sobre a estrutura da língua:
Inervação
A inervação dos botões gustativos pode ser classificada de acordo com a localização anatômica dos três nervos cranianos a seguir:
- Nervo facial (NC VII): o ramo corda do tímpano (através do nervo lingual) inerva os botões gustativos nos dois terços anteriores da língua. Suas fibras seguem até o gânglio geniculado e seguem em direção ao tronco encefálico, por meio da raiz sensitiva do nervo facial. As fibras gustativas do nervo corda do tímpano podem, alternativamente, passar pelo gânglio óptico/nervo petroso maior para alcançar o gânglio geniculado. O nervo petroso maior também é responsável pela inervação gustativa do palato mole.
- Nervo glossofaríngeo (NC IX): inerva predominantemente o terço posterior da língua (contendo as papilas circunvaladas), arco palatoglosso e orofaringe. Os corpos celulares do nervo glossofaríngeo estão localizados no gânglio petroso (também conhecido como gânglio inferior do nervo glossofaríngeo).
- Nervo vago (NC X): através de seu ramo laríngeo interno, fornece inervação para a região epiglótica e a parte faríngea da língua. Os seus corpos celulares estão localizados no gânglio inferior do nervo vago (gânglio nodoso).
Expanda seu conhecimento sobre neuroanatomia e a via do paladar com a unidade de estudo abaixo. Não deixe ainda de testar os seus conhecimentos sobre esse assunto:
Função
Após a ingestão dos alimentos, as substâncias que estimulam o paladar se dissolvem na saliva e entram em contato com os botões gustativos da cavidade oral. A superfície apical microvilosa das células epiteliais gustativas interage com os sabores através de receptores de proteínas ou canais iônicos. A partir desse ponto, os estímulos químicos são transduzidos através da célula sensitiva. O impulso elétrico é conduzido até o tronco encefálico, através das fibras nervosas gustativas aferentes.
Existem cinco sensações gustativas: doce, salgada, azeda, amarga e umami.
- O sabor salgado é a detecção de altas concentrações de íons de sódio na saliva, o que faz com que as células epiteliais gustativas se despolarizem e liberem neurotransmissores.
- O sabor azedo é percebido de um modo semelhante ao salgado (ou seja, difusão direta de íons), mas desta vez em resposta às altas concentrações de íons de hidrogênio (ou seja, ácidos). À medida que as concentrações aumentam, as células gustativas que detectam o ácido se despolarizam.
- Os sabores doce, amargo e umami são transduzidos por meio de receptores acoplados à proteína G específica, em vez da difusão direta de íons. O sabor doce envolve a detecção de açúcares (por exemplo, glicose e outros monossacarídeos). O sabor amargo é a detecção de compostos orgânicos de cadeia longa conhecidos como alcalóides, que contêm íons de nitrogênio básicos. O sabor umami é reconhecido após a ativação de receptores de certos aminoácidos, como a glutamina e, portanto, pode ser vagamente considerado como o "sabor das proteínas".
- O quente e o picante, mesmo que muitas vezes sejam referidos como sabores, são na verdade sensações de dor e temperatura causadas pela presença da substância 'capsaicina', presente em alguns alimentos. Este composto liga-se aos termorreceptores cuja função primária é detectar alimentos e líquidos quentes para evitar a queimadura da mucosa lingual/oral. Tais sensações são transmitidas por fibras nervosas aferentes do nervo trigêmeo.
Não fique chateado se você se sentir sobrecarregado com todas as informações que precisa aprender. Melhore seu aprendizado de anatomia aprendendo a ler de maneira mais efetiva!
Notas clínicas
Disfunção do paladar
A disfunção do paladar é um sintoma frequente de infecções virais ou bacterianas das vias respiratórias e orais superiores. Pode ocorrer em condições semelhantes à gripe, AIDS, doenças autoimunes e diabetes mellitus. A disfunção do paladar é comum em pacientes com epilepsia e alucinações (transtorno do espectro da esquizofrenia) e pode ocorrer como efeito colateral da quimioterapia.
As condições neurológicas relacionadas ao distúrbio do paladar podem ser categorizadas como ageusia, hipogeusia e hipergeusia (gosto [grego = geûsis]). Ageusia é uma condição rara, com perda total do paladar, geralmente relacionada à falta de suprimento sensitivo adequado do nervo gustativo. A hipogeusia é uma condição caracterizada pela diminuição do paladar devido à quimioterapia, paralisia de Bell ou outra disfunção neuronal, bem como ao uso de drogas. A hipergeusia é muito rara e refere-se ao aumento da sensibilidade gustativa. Pode estar associada a uma lesão da fossa posterior do crânio.
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