Corpo amigdaloide
Em algum momento de nossas vidas fomos todos dominados pelo medo e ouvimos muitos conselhos de nossos amigos como: “Pense racionalmente, ouça o seu cérebro, não há razão para ter medo!”. Bem, depois de ler este artigo, você poderá explicar a eles que o epicentro do seu medo está no próprio cérebro, e que se chama corpo amigdaloide.
Neste artigo, vamos nos concentrar na anatomia do corpo amigdaloide e em um amplo espectro de funções que essa estrutura desempenha quando se trata de respostas emocionais, tomada de decisão e memória.
Localização | Nos lobos temporais, medial ao hipotálamo e adjacente ao hipocampo e corno inferior (temporal) do ventrículo lateral. |
Núcleos |
Grupo basolateral (ventrolateral) - resposta ao estresse, comportamento alimentar Grupo corticomedial (dorsomedial) - fome e comportamentos alimentares Grupo centromedial - funções respiratórias e cardiovasculares |
Projeções aferentes |
Bulbo olfatório, córtex orbitofrontal, giro do cíngulo, tronco encefálico, prosencéfalo basal, tálamo medial, hipotálamo |
Projeções eferentes | Estria terminal, via amigdalofugal ventral |
Lesões | Síndrome de Klüver-Bucy |
Localização
O corpo amigdaloide é um dos dois grupos de núcleos em formato de amêndoa localizados profundamente nos lobos temporais, medial ao hipotálamo e adjacente ao hipocampo e corno inferior (temporal) do ventrículo lateral.
Em geral, as funções principais do corpo amigdaloide estão em forte correlação com estímulos e situações desagradáveis e aversivas, e às reações que essas situações causam. Esses tipos de estímulos são de grande significado biológico por razões evolutivas e, portanto, o corpo amigdaloide é uma das áreas cerebrais mais importantes para esses comportamentos “primitivos”.
A maioria das funções que o corpo amigdaloide desempenha é alcançada por meio de sua função principal: a modulação do hipotálamo por meio de várias vias neuronais.
O hipocampo, o fórnix e o corpo amigdaloide são estruturas subcorticais que, juntamente com várias outras estruturas, fazem parte do sistema límbico. Você pode aprender ainda mais sobre essas estruturas respondendo a testes e questionários. Experimente com o teste abaixo:
Núcleos
O corpo amigdaloide, que também é conhecido simplesmente como amígdala, é uma estrutura subcortical de substância cinzenta do sistema límbico, que é vascularizada pela artéria coróidea anterior. Ele contém 13 núcleos, que são agrupados em três divisões funcionalmente diferentes:
- o grupo basolateral
- o grupo centromedial
- o grupo corticomedial
Grupo basolateral (ventrolateral)
Este grupo inclui os núcleos lateral, basal e basal acessório. É um grupo grande e filogeneticamente recente. Funcionalmente, ele pertence ao sistema límbico. Tem conexões recíprocas com as quatro áreas de associação sensorial do córtex: o córtex auditivo, visual e somatossensorial.
Ele se projeta para três localizações diferentes:
- Núcleo dorsal medial do tálamo
- Núcleo basal (de Meynart)
- Corpo estriado ventral
Este núcleo modula diferentes funções do tálamo, tais como:
- Respostas ao estresse
- Reflexos somáticos e autonômicos
- Comportamento alimentar
Grupo corticomedial (dorsomedial)
Este grupo contém os núcleos corticais e o núcleo do trato olfatório lateral. É menor e filogeneticamente mais antigo, em comparação ao grupo basolateral, e pertence funcionalmente ao sistema olfatório. Na verdade, é o local de terminação das fibras olfativas que surgem do bulbo olfatório. Esse núcleo se projeta para o núcleo ventromedial do hipotálamo e desempenha uma função nos comportamentos associados à fome e à alimentação.
Grupo Centromedial
Este grupo é composto pelos núcleos medial e central. Na verdade, é um lugar onde os núcleos basolaterais e corticomediais se projetam. Esse núcleo está reciprocamente conectado aos núcleos sensitivos viscerais e autonômicos no tronco encefálico, que estão envolvidos nas funções respiratórias e cardiovasculares.
Além desses grupos de núcleos, há um conjunto separado de núcleos que não poderia ser facilmente classificado em nenhum desses três grupos e, portanto, são listados separadamente. Nesse conjunto se incluem as massas de células intercaladas e a área amigdalo-hipocampal.
Vias
Cada núcleo amigdaloide recebe informações aferentes e envia informações eferentes para regiões múltiplas, porém distintas, do cérebro. Os trajetos que essas informações percorrem são chamadas de vias e, dependendo se são recebidas ou enviadas, essas vias podem ser aferentes ou eferentes, respectivamente.
Projeções aferentes
O grupo basolateral de núcleos recebe impulsos do tálamo dorsal e medial e de muitas áreas corticais, como ínsula, o córtex pré-frontal, o córtex para-hipocampal e o córtex temporal. Além disso, ele recebe várias fibras neurais do tronco encefálico.
Todas essas fibras transmitem um amplo espectro de informações somatossensoriais, visuais e ópticas para o corpo amigdaloide. Por receber inúmeras fibras aferentes, o grupo basolateral de núcleos é frequentemente chamado de zona amigdaloide de convergência sensorial.
Todos esses impulsos recebidos pelo grupo basolateral são então projetados para o grupo centromedial, onde devem ser organizados e então enviados para diferentes centros motores, a fim de estimular uma reação às informações recebidas. Por essa razão, o grupo central é frequentemente referido como a zona amigdaloide de divergência motora.
Especificamente, essas são as estruturas que enviam fibras para o corpo amigdaloide:
- Bulbo olfatório
- Córtex orbitofrontal
- Giro do cíngulo
- Prosencéfalo basal
- Tálamo medial
- Hipotálamo
- Tronco encefálico
Projeções eferentes
A principal função do corpo amigdaloide, como já mencionado, é modular a atividade do hipotálamo, através de duas vias principais: a estria terminal e a via amigdalofugal ventral.
Estria terminal
Essa via se origina do núcleo centromedial do corpo amigdaloide e cursa até o núcleo ventromedial do hipotálamo. A via também transporta fibras para os núcleos septais e para as regiões talâmicas do cérebro.
Junto com essas fibras eferentes, a estria terminal carrega fibras que se projetam dessas três áreas de volta ao corpo amigdaloide. Ela desempenha um papel importante em vários tipos de respostas do organismo ao estresse.
Ao deixar o núcleo centromedial, a maior parte de suas fibras fica entre o núcleo caudado e o tálamo, seguidas pela veia terminal. Em toda a sua extensão, a estria terminal está relacionada ao grupo de neurônios denominado Núcleo Leito da Estria Terminal (NLET), cuja função será descrita mais adiante.
As fibras finais da estria terminal se espalham na forma de raios e atingem vários núcleos do hipotálamo, como o ventromedial, pré-óptico, núcleo anterior e hipotálamo lateral. Eles também formam sinapses com neurônios do núcleo accumbens, núcleos septais, núcleo caudado e putâmen. Uma vez que está conectada com a estria medular através dos núcleos septais, a estria terminal modula indiretamente o tronco encefálico.
O NLET, mencionado acima, é uma estrutura límbica do prosencéfalo que recebe projeções do corpo amigdaloide basolateral (além de outras áreas) e se projeta, por sua vez, para áreas alvo do hipotálamo e do tronco encefálico, que modulam muitas das respostas autonômicas e comportamentais a estímulos aversivos ou ameaçadores. É uma estrutura que tem morfologia diferente no cérebro masculino em comparação ao feminino, sendo duas vezes maior nos homens do que nas mulheres. Para esses tipos de núcleos, dizemos que são sexualmente dimórficos.
A morfologia diferente do NLET entre homens e mulheres também define diferenças específicas quando se trata de fobias. Esta é a razão pela qual as mulheres são estereotipadamente consideradas mais fáceis de assustar em comparação com os homens. Outras funções da estria terminal se correlacionam com a ansiedade em resposta à ameaça. Acredita-se que o NLET atue como um local de retransmissão dentro do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal e module sua atividade em resposta ao estresse agudo que dura mais de 10 minutos. Acredita-se também que promove a inibição comportamental ao encontrar indivíduos desconhecidos.
Via amigdalofugal
Essa via é a principal via eferente do corpo amigdaloide. Se origina a partir dos núcleos centromedial e basolateral do complexo amigdaloide e transporta as fibras para vários locais do sistema nervoso.
Os axônios do grupo basolateral passam medialmente pela substância inominada e terminam no hipotálamo e nos núcleos septais. Sabe-se que a substância inominada projeta neurônios colinérgicos para o córtex cerebral, que são importantes para a modulação do comportamento social. Além disso, o grupo basolateral projeta fibras que se espalham difusamente e fazem sinapses com áreas amplas do córtex frontal e pré-frontal, o córtex do giro do cíngulo, a ínsula e o córtex temporal. Por outro lado, as fibras do núcleo centromedial são direcionadas caudalmente em direção ao tronco encefálico, terminando nos núcleos da rafe, junto com outras estruturas como a substância cinzenta periaquedutal e o cerúleo, ou locus coeruleus. Essas estruturas também enviam suas fibras de volta para o corpo amigdaloide.
Juntas, a via amigdalofugal e a estria terminal permitem que o corpo amigdaloide controle diretamente o hipotálamo medial, o hipotálamo lateral e a substância cinzenta periaquedutal do mesencéfalo. Essa via é especificamente importante para a aprendizagem associativa.
Revisão
Neste ponto, várias funções do corpo amigdaloide foram descritas. Para uma aprendizagem mais eficaz, vamos listá-las todos em um só lugar:
A primeira e principal função do corpo amigdaloide é modular o hipotálamo. Com isso, ela afeta várias estruturas neurais e define alguns hábitos comportamentais. Aqui estão alguns dos mais importantes:
- Fobias
- Resposta ao estresse agudo
- Controle do sistema nervoso autônomo
- Mediação do armazenamento da memória no condicionamento do medo
Conhecer a anatomia do corpo amigdaloide e, consequentemente, compreender suas funções é algo valioso para todos os apaixonados por neuroanatomia. Além de aumentar seu conhecimento sobre a anatomia geral do cérebro, ele irá apresentá-lo às estruturas filogeneticamente antigas do sistema nervoso para que você possa entender melhor algumas informações que ainda são um grande ponto de interrogação para os cientistas - as emoções humanas.
Lesões do corpo amigdaloide
Conhecer as funções do corpo amigdaloide é muito importante, pois se o seu paciente apresentar algum tipo de lesão no lobo temporal, será fácil reconhecer uma lesão do corpo amigdaloide. Pessoas com esse tipo de lesão expressam sintomas da chamada síndrome de Klüver-Bucy. Esta síndrome é definida pelos seguintes sintomas:
- Incapacidade de reconhecimento visual dos objetos adjacentes
- Tendência para identificar os objetos cheirando-os ou mastigando-os
- Necessidade irresistível de explorar o espaço ao redor e reações excessivas a estímulos visuais
- Expressão excessiva de medo e raiva
- Comer quantidades anormais de comida, mesmo quando o paciente não está com fome
Junto com esses sintomas, a lesão do corpo amigdaloide pode ser acompanhada de amnésia, demência e afasia.
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