Sistema nervoso simpático
O sistema nervoso autônomo é formado por duas divisões, conhecidas como sistema nervoso simpático e sistema nervoso parassimpático. Geralmente, essas duas divisões trabalham de maneira antagônica nos órgãos, ainda que de uma maneira bem integrada. É esse equilíbrio das ações do sistema nervoso simpático e do sistema nervoso parassimpático que mantém um ambiente interno estável no corpo.
Apesar de ser importante no repouso, o principal papel do sistema nervoso simpático é nos preparar para emergências, ou, em outras palavras, para respostas de “luta ou fuga”. Se você já ficou com medo ou ansioso, ou se sentiu ameaçado ou atacado, você experimentou a ativação do seu sistema nervoso simpático. Para lhe preparar para uma emergência em uma necessidade de “luta ou fuga”, o sistema nervoso simpático ativa numerosas e complexas vias e componentes, que vão causar diversos efeitos no corpo. Assim, ele é capaz de acelerar a respiração, aumentar a frequência cardíaca e a pressão sanguínea, dilatar as pupilas, redirecionar o fluxo sanguíneo da pele e do trato digestivo para o cérebro, coração e músculos, onde ele é mais necessário, aumentar a sudorese e causar arrepios ao elevar os pelos da sua pele. Você sente tudo isso durante uma resposta de luta ou fuga.
Este artigo irá discutir a anatomia e a função do sistema nervoso simpático.
Definição | Divisão do sistema nervoso autônomo responsável por iniciar a resposta corporal ao estresse (“luta ou fuga”) |
Neurônios pré-ganglionares | Neurônios da coluna intermediolateral da medula espinal, encontrados nos níveis T1-T12 e L1-L3 |
Fibras pré-ganglionares | Axônios dos neurônios pré-ganglionares que deixam a medula espinal através dos ramos anteriores dos nervos espinais e continuam seu trajeto como ramos comunicantes brancos |
Gânglios simpáticos |
- Tronco simpático (gânglios paravertebrais) - Gânglios pré-vertebrais (esplâncnicos) Os corpos dos neurônios dos gânglios simpáticos formam sinapses com os ramos comunicantes brancos |
Fibras pós-ganglionares |
Axônios dos neurônios ganglionares que deixam os gânglios na forma de ramos comunicantes cinzentos, que se juntam aos ramos dos nervos espinais - Nervos espinais C2-C8 levam inervação simpática para a cabeça, o pescoço, os membros superiores e o tórax - Nervos espinais T1-L2 levam inervação simpática para a parede do tronco, e participam na formação dos nervos esplâncnicos para a inervação das vísceras abdominopélvicas - Nervos espinais L3-Co levam inervação simpática para as estruturas cutâneas dos membros inferiores |
Função | Resposta do corpo ao estresse: aumenta a frequência cardíaca, midríase, vasoconstrição, broncodilatação, libera energia do fígado, libera adrenalina da glândula adrenal |
- Organização do sistema nervoso
- Via simpática geral
- Componentes pré-ganglionares
- Componentes ganglionares
- Componentes pós-ganglionares
- Função
- Considerações clínicas
- Referências
Organização do sistema nervoso
Antes de entender o sistema simpático e as suas funções, é importante conhecer a organização geral do sistema nervoso humano. O sistema nervoso pode ser dividido estrutural ou funcionalmente, conforme representado abaixo:
Do ponto de vista estrutural, o sistema nervoso é dividido em sistema nervoso central (SNC) e sistema nervoso periférico (SNP). O SNC é formado pelo encéfalo e pela medula espinal, enquanto o SNP contém todos os tecidos nervosos localizados fora do SNC. Essas estruturas são os nervos cranianos, os nervos espinais e os gânglios periféricos.
A parte periférica do sistema nervoso pode ainda ser subdividida de acordo com a sua função. De acordo com essa classificação, o sistema nervoso é formado pelo sistema nervoso somático e pelo sistema nervoso autônomo (SNA). O sistema nervoso somático é a parte voluntária do sistema nervoso. Ele é formado por nervos sensitivos e motores. Os nervos sensitivos somáticos levam informações sensitivas da pele, articulações e músculos para o sistema nervoso central, enquanto os nervos motores somáticos inervam os músculos esqueléticos e nos permitem movimentar conforme nossa vontade.
O sistema nervoso autônomo, entretanto, contém apenas neurônios motores. Esses nervos controlam as funções involuntárias das vísceras do corpo, ou seja, os músculos liso e cardíaco e as glândulas. O SNA é subdividido ainda em sistema nervoso simpático e sistema nervoso parassimpático. Essas duas subdivisões causam efeitos opostos nos órgãos e estruturas do corpo, mas a sua atividade sincronizada é essencial para a manutenção da homeostase.
A distinção anatômica entre as divisões simpática e parassimpática é dada pela localização dos corpos de neurônios pré-sinápticos e pelos tipos de nervo nas fibras nervosas pré-sinápticas.
A anatomia do sistema nervoso autônomo está lhe esperando na nossa unidade de estudo:
Via simpática geral
A via simpática geral pode ser simplificada entendendo-se os seus componentes:
- pré-ganglionar
- ganglionar
- pós-ganglionar
Os componentes pré-ganglionares são os neurônios pré-ganglionares, localizados dentro da medula espinal, juntamente com as suas fibras (axônios), que são chamadas de fibras pré-ganglionares. Os axônios formam sinapses com os neurônios pós-ganglionares dentro dos gânglios simpáticos. Esses gânglios são uma coleção de corpos de neurônios pós-ganglionares, normalmente localizados fora do sistema nervoso central. Os componentes pós-ganglionares são os neurônios pós-ganglionares e suas fibras. Os axônios deixam os gânglios e se direcionam para os efetores viscerais, onde liberam o neurotransmissor norepinefrina. Tanto os neurônios pré-ganglionares quanto os pós-ganglionares são multipolares.
Componentes pré-ganglionares
Os corpos dos neurônios pré-ganglionares do sistema nervoso simpático são encontrados apenas nas colunas intermediolaterais de cada lado da medula espinal. Essas colunas fazem parte dos cornos laterais da substância cinzenta dos segmentos torácico (T1 a T12) e lombar superior (L1 a L2 ou L3) da medula espinal, daí o nome alternativo de “toracolombar” para a divisão simpática do sistema nervoso autônomo. Essa região consiste na região motora visceral da substância cinzenta da medula espinal. Você pode pensar nas colunas intermediolaterais como tubos passando pelos respectivos cornos laterais da medula espinal. Os corpos pré-ganglionares do sistema nervoso simpático são organizados de maneira somatotópica, ou seja, a posição dos corpos celulares é uma representação fiel do corpo. Basicamente, os corpos neuronais de T1 a T6, que estão localizados superiormente, inervam a cabeça, os membros superiores e as vísceras torácicas. Os que estão localizados em T7 a T11 inervam a parede do corpo e as vísceras abdominais, enquanto os que estão localizados entre T11 e L2 (ou L3), mais inferiores, inervam os membros inferiores e as vísceras pélvicas.
As fibras pré-ganglionares deixam a coluna intermediolateral e, portanto, a medula espinal, através das raízes anteriores. Elas cursam brevemente pelos ramos ventrais dos nervos espinais T1 a L2 (ou L3), antes de deixá-los e passar para os troncos simpáticos (mais detalhes a seguir) através dos ramos comunicantes brancos (chamados brancos porque suas fibras nervosas são cobertas com mielina, que dá uma coloração esbranquiçada).
Componentes ganglionares
Tipos de gânglios
O compartimento ganglionar na verdade é formado pelos corpos celulares de neurônios pós-ganglionares. Há dois tipos de gânglios: os gânglios paravertebrais e os gânglios pré-vertebrais.
Os gânglios paravertebrais (“para” = ao lado) se encontram de cada lado da coluna vertebral, e são interconectados de forma independente de cada lado, formando dois troncos (cadeias) simpáticos. Os gânglios paravertebrais são o local onde as fibras pré-ganglionares formam sinapses com os neurônios pós-ganglionares. Os troncos se estendem por todo o comprimento da coluna vertebral, da base do crânio ao cóccix. Eles convergem anteriormente no cóccix, formando o gânglio ímpar (gânglio de Walther). Cada tronco se liga ao ramo anterior dos nervos espinais T1-L2(3).
Os gânglios pré-vertebrais (gânglios esplâncnicos) se localizam na cavidade abdominal, junto à origem dos maiores ramos da aorta abdominal. Os gânglios pré-vertebrais formam agregados ao redor dos plexos abdominais pré-vertebrais e são chamados de gânglios celíacos, aórticorrenais, mesentéricos superiores e mesentéricos inferiores.
Trajeto das fibras
De forma geral, depois de passar brevemente ao longo do ramo anterior, as fibras pré-ganglionares entram no tronco simpático através dos ramos comunicantes brancos. Dentro do tronco, as fibras pré-ganglionares podem seguir um dos seguintes quatro trajetos:
1. Cursar superiormente e formar sinapse em um gânglio paravertebral mais alto
Dentro do tronco simpático, as fibras pré-ganglionares, geralmente dos níveis T1-T5 da medula espinal, podem cursar superiormente para outros níveis vertebrais e formar sinapses dentro dos gânglios localizados em um nível superior. Os gânglios não necessariamente são associados às informações recebidas diretamente da medula espinal (outros nervos além de T1-L2(3) podem participar da sinapse).
2. Cursar inferiormente e formar sinapse em um gânglio paravertebral mais baixo
Estes são semelhantes aos pré-ganglionares ascendentes, mas, ao contrário, eles cursam inferiormente até os gânglios localizados em um nível inferior. Esse trajeto geralmente envolve fibras de T5-L2(3). As fibras pré-ganglionares ascendentes e descendentes dão ao tronco simpático a aparência de uma corrente com conexões entre os gânglios.
3. Formar sinapse diretamente no gânglio paravertebral no mesmo nível
Depois de formar sinapse dentro do gânglio, as fibras pós-ganglionares deixam-o através de ramos comunicantes cinzentos (cinzentos devido à ausência de mielina) e entram novamente no mesmo ramo anterior no qual cursaram inicialmente.
As fibras são então distribuídas para estruturas efetoras, com ramos periféricos dos ramos anterior e posterior do mesmo nervo espinal. As fibras podem ainda se combinar com fibras de outros níveis para formar nervos esplâncnicos, que então seguem até as vísceras torácicas (mais detalhes mais abaixo).
4. Cursar sem formar sinapses até os gânglios pré-vertebrais
As fibras pré-ganglionares também podem passar pelo tronco simpático sem formar sinapses. Essas fibras geralmente são derivadas dos níveis T5 a L2(3) da medula espinal. Uma vez que passam pelo tronco simpático, elas se combinam com fibras de outros níveis e deixam o tronco como um nervo esplâncnico. Os nervos esplâncnicos formam sinapse em um gânglio pré-vertebral, e as fibras pós-sinápticas seguem então até as vísceras abdominais e pélvicas através de um plexo motor visceral.
Componentes pós-ganglionares
O compartimento pós-ganglionar é formado por fibras pós-ganglionares cursando até os efetores. O número de fibras pós-ganglionares é maior do que o de fibras pré-ganglionares. Uma fibra pré-ganglionar forma sinapse com pelo menos trinta fibras pós-ganglionares. Depois de formar sinapses, as fibras pós-ganglionares deixam os gânglios através de ramos comunicantes cinzentos e cursam através dos ramos anterior e posterior dos nervos espinais. Estes ramos carregam as fibras até a periferia e componentes viscerais.
As fibras simpáticas ascendentes do tronco simpático se juntam aos nervos periféricos de C2-C8. Estes então se projetam para os efetores na cabeça, pescoço, membros superiores e cavidade torácica. Por exemplo, um ramo nervoso cefálico arterial deixa o gânglio cervical superior e se projeta no plexo peri-arterial das artérias carótidas. A partir dali ele se projeta até o músculo dilatador da íris.
As fibras simpáticas descendentes do tronco simpático se unem aos nervos periféricos de L3 até os nervos coccígeos.
As fibras simpáticas que entram e saem do tronco no mesmo nível se juntam aos nervos periféricos de T1-L2(3). Elas então se projetam para a parede do corpo através de ramos cutâneos, mas também para as glândulas sudoríparas, músculos lisos e músculos eretores dos pelos, através de nervos motores viscerais. As fibras pós-ganglionares também podem se combinar para formar nervos esplâncnicos. Esse tipo de nervo leva fibras viscerais eferentes e aferentes para a víscera. As fibras pós-ganglionares que se projetam para as vísceras torácicas (ex.: coração, pulmões, esôfago) passam pelos nervos esplâncnicos cardiopulmonares.
Nervos esplâncnicos
As fibras simpáticas que passam pelo tronco sem formar sinapses também se combinam com outras fibras para formar os nervos esplâncnicos, que são cinco: maior, menor, mínimo, lombar e sacral. Coletivamente, estes são chamados de nervos esplâncnicos abdominopélvicos. Nesse caso, a sinapse ocorre nos gânglios pré-vertebrais, e não nos gânglios paravertebrais. As fibras pós-ganglionares desses gânglios pré-vertebrais seguem os principais ramos da aorta e em seguida se projetam para todos os órgãos (exceto as glândulas adrenais) nas cavidades abdominal e pélvica.
As glândulas adrenais são uma exceção. Para cada órgão do corpo humano, as fibras pós-ganglionares formam sinapse e liberam norepinefrina, que atua na sua regulação. Entretanto, para essas glândulas, os nervos se projetam diretamente nas células medulares, sem formar sinapses. As células atuam como neurônios pós-ganglionares, ao liberar neurotransmissores como a epinefrina (adrenalina) diretamente na corrente sanguínea. Isso resulta em uma resposta simpática generalizada.
Função
O alcance do sistema simpático é extremamente amplo no corpo humano. Ele é um componente de virtualmente todos os nervos espinais e plexos peri-arteriais, e as fibras simpáticas inervam todos os vasos sanguíneos, glândulas sudoríparas, músculos eretores dos pelos e vísceras. As únicas estruturas que o sistema simpático não alcança são estruturas avasculares, como unhas e cartilagens.
Olhos | Midríase (dilatação da pupila) |
Pele | Arrepios, vasoconstrição, sudorese |
Glândulas lacrimais e salivares | Reduz a secreção |
Coração | Aumenta a frequência cardíaca e a força de contração |
Vasos sanguíneos | Contrai a musculatura lisa (vasoconstrição) |
Pulmões | Broncodilatação, redução da secreção das glândulas brônquicas |
Sistema digestório | Inibe o peristaltismo, contrai os vasos sanguíneos e redireciona o sangue para os músculos esqueléticos, contrai os esfíncteres anais |
Fígado e vesícula biliar | Estimula a conversão de glicogênio em glicose - liberação de energia |
Sistema urinário | Reduz a produção de urina, contrai o esfíncter interno da bexiga |
Sistema genital | Ejaculação |
Glândula suprarrenal | Estimula a liberação de epinefrina (adrenalina) na corrente sanguínea |
As divisões simpática e parassimpática do sistema nervoso trabalham em íntima associação, com efeitos opostos, entretanto altamente coordenados. O sistema simpático está envolvido no gasto de energia (catabolismo), permitindo que o corpo utilize energia de forma apropriada para responder a situações de estresse e emergências, como em uma situação de “luta ou fuga”. A ativação do sistema simpático resulta na dilatação da pupila, ereção dos pelos, constrição dos vasos cutâneos, sudorese, liberação de adrenalina, broncodilatação, aumento da contratilidade cardíaca e redução da digestão.
Em condições normais, os vasos sanguíneos são mantidos tonicamente em um estado de vasoconstrição moderada. Se os sinais simpáticos aumentam, a vasoconstrição aumenta, e vice-versa. Entretanto, nos vasos coronários, músculos esqueléticos e vasos da genitália externa, a estimulação simpática resulta em vasodilatação.
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Considerações clínicas
Síndrome da dor regional complexa
A síndrome da dor regional complexa, também chamada de distrofia simpática reflexa, é uma síndrome complexa, multifacetada, que tem sido relacionada a uma resposta à dor anormalmente severa e prolongada do sistema nervoso simpático, ocorrendo após lesões. Apesar de existirem vários tipos clínicos, essa síndrome geralmente se apresenta como complicação de trauma aos nervos e/ou músculos, após cirurgias (ex.: descompressão do túnel do carpo) e com o excesso de utilização (síndrome da utilização excessiva).
Simpatectomia
A simpatectomia envolve a remoção parcial do tronco simpático ou gânglios associados. Ela pode ser realizada por procedimentos cirúrgicos abertos ou endoscópicos. Pode ser usada para tratar condições como a síndrome da dor regional complexa. A simpatectomia pode ser realizada através do pescoço (simpatectomia cervical), levando à remoção dos gânglios T2 e T3 e as fibras comunicantes. Ela também pode ser realizada na área lombar (simpatectomia lombar), e envolve a remoção dos gânglios L3 e L4.
Neuropatia autonômica cardiovascular diabética
A neuropatia autonômica cardiovascular diabética é uma complicação séria do diabetes, geralmente de início tardio. Ela envolve lesões ao sistema nervoso autônomo, resultando em anomalias do coração e do controle vascular. Tanto a divisão simpática quanto a parassimpática podem sofrer danos. A perda de controle leva a desordens como taquicardia de repouso, hipotensão ortostática e disfunção geral do ventrículo esquerdo, dificultando o trabalho do sistema cardiovascular.
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