Cirrose
A cirrose surge como resultado de uma doença hepática crônica.
A origem da palavra cirrose é grega e quer dizer “laranja” ou “amarelo-acastanhado”. Nesse processo, o fígado sofre fibrose e forma nódulos anormais que resultam no estágio final de doença hepática.
Várias condições que causam injúria (lesão) hepática podem levar à cirrose, como hepatites, doença hepática alcoólica, problemas biliares, esteatose hepática, drogas e toxinas.
A cirrose é um diagnóstico histológico com várias manifestações clínicas. Desenvolve-se a hipertensão portal (HP) e a insuficiência hepática que, normalmente, são irreversíveis. A fibrose do fígado ocorre devido à ativação das células estreladas hepáticas e leva ao acúmulo de colágeno no espaço de Disse e no parênquima. A formação de tecido cicatricial pode obstruir o fluxo sanguíneo portal. A hipertensão porta está associada à maioria das complicações relacionadas à cirrose.
Etiologia e Fatores de Risco |
Etilismo pesado crônico Doenças autoimunes Esteatose hepática não alcoólica Hepatite B Hepatite C Cirrose biliar primária secundária a colangite esclerosante primária Doença de Wilson Deficiência de alfa-1 antitripsina Galactosemia Hemocromatose Síndrome de Alagille Induzida por drogas: amiodarona ou metotrexato |
Sinais e Sintomas |
Cirrose compensada: anorexia, fadiga, dispepsia, perda de peso e desconforto abdominal no QSD Cirrose descompensada: distensão abdominal secundária a ascite na hipertensão portal, icterícia, prurido, hematêmese, melena, confusão Exame Físico: Hepatoesplenomegalia, icterícia (esclera amarelada), leuconíquia, baqueteamento digital, eritema palmar, aranha vascular, telangiectasia, hálito hepático, equimoses, edema periférico, perda de massa muscular |
Investigação |
Testes sanguíneos: hemograma completo, testes de função renal, ureia e eletrólitos, albumina, RNI/INR, tempo de protrombina, sorologia para hepatites B e C, cinética do ferro Anticorpos: antinuclear (para colangite esclerosante primária), anti-músculo liso (para hepatite auto-imune), anti-mitocondrial (para colangite biliar primária), ceruloplasmina sérica (para doença de Wilson) alfa-1 antitripsina plasmática e eletroforese de proteínas Exames de imagem: ultrasom abdominal, TC e RNM de abdome, se hematêmese ou sinais de varizes esofágicas, uma endoscopia digestiva alta deve ser realizada. Colonoscopia se melena. Biópsia hepática. |
Tratamento |
Tratamento das causas de base Terapia medicamentosa pode ser necessária Na maioria dos casos a doença hepática é irreversível |
Complicações |
Descompensação da cirrose Sangramento de varizes esofágicas Encefalopatia hepática Peritonite bacteriana espontânea Carcinoma hepatocelular |
Este artigo discutirá a etiologia, fatores de risco, sinais e sintomas dos tipos de cirrose, bem como seus tratamentos e as possíveis complicações decorrentes do mesmo.
Etiologia e Fatores de Risco
Existem muitos fatores de risco para doença hepática e os pacientes podem apresentar vários deles. Fatores de risco para cirrose incluem:
- Etilismo pesado crônico é o principal fator de risco
- Doenças autoimunes como vitiligo, diabetes e doença inflamatória intestinal etc, também são associadas à hepatite autoimune.
- Esteatose hepática não alcoólica, como resultado de obesidade ou diabetes por resistência à insulina, dislipidemia e hipertensão.
- Hepatite B
- Hepatite C
- Cirrose biliar primária secundária a colangite esclerosante primária
- Doença de Wilson
- Deficiência de alfa-1 antitripsina
- Galactosemia
- Hemocromatose
- Síndrome de Alagille
- Induzida por drogas: amiodarona ou metotrexato
A cirrose tem várias causas e um indivíduo pode ter uma combinação desses problemas. Primeiro, a doença hepática alcoólica está presente em pessoas que bebem álcool em excesso por mais de 10 anos. Este tipo de estilo de vida pode ter consequências sérias e levar ao dano do fígado. O metabolismo do álcool gera o acetaldeído que se acumula no fígado, o que danifica o tecido hepático.
A hepatite B crônica é uma infecção do fígado com inflamação crônica que pode levar à cirrose. O vírus da hepatite B tem DNA de fita dupla e pode ser transmitido por uso de drogas injetáveis, transfusão sanguínea e relações sexuais.
A hepatite C crônica é uma inflamação do fígado que ocorre após vários anos de infecção e gera alterações gordurosas no fígado que podem causar cirrose. O vírus da hepatite C é um vírus de RNA simples que pode ser transmitido por drogas injetáveis, transfusões sanguíneas, procedimentos médicos não estéreis e relações sexuais.
A esteatose hepática não alcoólica ocorre por depósitos e acúmulo de gordura no fígado. É uma doença progressiva e pode eventualmente levar à cirrose. Fatores de risco metabólicos como obesidade, diabetes por resistência à insulina, dislipidemia e hipertensão podem ou não existir na esteatose hepática não alcoólica.
Doenças autoimunes como vitiligo, diabetes, desordens tireoidianas, anemia perniciosa, colangite esclerosante primária, cirrose biliar primária e doença inflamatória intestinal estão associadas com hepatite autoimune. A colestase gerada por estas condições pode levar à cirrose devido ao dano e à destruição dos ductos biliares e ductos intra-hepáticos.
A doença de Wilson é uma desordem autossômica recessiva na qual o cobre se acumula nos tecidos. Isto resulta em doença hepática e problemas neurológicos. O anel de Kayser-Fleischer é um sinal da doença. Anéis escuros são vistos no olho, circundando a íris, devido ao depósito de cobre. A doença pode causar encefalopatia hepática, hipertensão portal e hepatite crônica levando à cirrose.
A deficiência de alfa-1 antitripsina é um distúrbio hereditário que causa um defeito na produção da alfa-1 antitripsina pelo fígado. Isto leva a problemas como enfisema pulmonar em pacientes que nunca fumaram cigarros e danos ao fígado gerando a cirrose.
Galactosemia é uma doença autossômica recessiva que afeta o metabolismo da galactose. A lactose é metabolizada em glicose e galactose, mas a galactose não é metabolizada e acaba se acumulando em níveis tóxicos, resultado em cirrose e outros problemas sistêmicos. Normalmente é diagnosticada ao nascimento pelo teste do pezinho. O tratamento é feito pela eliminação da lactose da dieta.
A hemocromatose pode ser secundária a uma desordem hereditária, na qual há depósito de ferro nos tecidos, ou derivar de condições que levam ao acúmulo de ferro e seu depósito no fígado, coração, articulações, testículos e pele. O depósito de ferro no fígado pode levar à cirrose.
A síndrome de Alagille é uma doença autossômica dominante na qual há malformação dos ductos biliares, o que resulta em acúmulo de bile e cicatrização hepática.
Sinais e Sintomas
A cirrose pode se apresentar nas formas compensada e descompensada. A cirrose compensada normalmente é diagnosticada durante exames de rotina ou incidentalmente. Os sinais e sintomas são inespecíficos, como anorexia, fadiga, dispepsia, perda de peso e desconforto abdominal no quadrante superior direito. O tipo descompensado normalmente se complica com um ou mais dos seguintes sintomas:
- Distensão abdominal secundária a ascite na hipertensão portal
- Icterícia
- Prurido
- Hematêmese
- Melena
- Confusão
Os sinais que devem ser procurados no exame físico são os seguintes:
- Hepatoesplenomegalia
- Icterícia (esclera amarelada)
- Leuconíquia – manchas brancas nas unhas
- Baqueteamento digital
- Eritema palmar – vermelhidão das eminências tenar e hipotenar
- Aranha vascular – vasos sanguíneos distendidos sob a pele de padrão radial como uma teia de aranha
- Telangiectasia – linhas avermelhadas na pele devido ao alargamento venular
- Hálito hepático
- Equimoses
- Edema periférico
- Perda de massa muscular
Investigação
A cirrose é um diagnóstico histológico, ou seja, realizado através da análise de uma lâmina histológica de uma biópsia hepática.
Entretanto, uma vez estabelecido o diagnóstico de cirrose, é preciso definir a sua etiologia.
Existem várias investigações que devem ser feitas para distinguir entre as causas de cirrose. Primeiramente deve-se solicitar testes sanguíneos como hemograma completo, testes de função renal, ureia e eletrólitos, albumina, RNI/INR, tempo de protrombina, sorologia para hepatites B e C, cinética do ferro; que inclui: ferro total, ferritina, transferrina e capacidade total de ligação do ferro. Anticorpos a serem pesquisados são: anticorpo antinuclear (para colangite esclerosante primária), anticorpo anti-músculo liso (para hepatite auto-imune), anticorpo anti-mitocondrial (para colangite biliar primária), ceruloplasmina sérica (para doença de Wilson) alfa-1 antitripsina plasmática e eletroforese de proteínas.
Exames de imagem devem ser considerados, como ultrassom abdominal, TC e RNM de abdome/abdómen. Se houver hematêmese ou sinais de varizes esofágicas, uma endoscopia digestiva alta deve ser realizada. Colonoscopia pode ser solicitada caso o paciente apresente melena. Se os exames de sangue e de imagem estiverem alterados uma biópsia hepática deve ser considerada.
Resultados de exames de sangue típicos de cirrose:
- Os testes vão demonstrar um aumento moderado de AST e ALT. Especialmente em doenças hepáticas alcoólicas o AST está mais elevado que o ALT. O ALT pode estar elevado até duas ou três vezes acima seu valor de referência superior e pode indicar bloqueio dos ductos biliares. GGT está tipicamente elevado em doenças hepáticas alcoólicas. A bilirrubina pode se tornar elevada à medida que a doença progride. A albumina vai se reduzindo e se torna um marcador da redução da função de síntese hepática.
- Como o fígado sintetiza fatores de coagulação, isto será prejudicado na doença e o tempo de protrombina aumentará. Os estudos de coagulação estarão alterados também.
- Haverá hiponatremia devido aos elevados níveis de aldosterona e hormônio antidiurético (ADH).
- A esplenomegalia pode levar à redução da contagem de leucócitos (leucopenia) e de neutrófilos (neutropenia).
- Pode haver uma deficiência na contagem plaquetária (trombocitopenia) devido à supressão medular alcoólica, esplenomegalia, redução dos níveis de folato ou sepse. Isto pode resultar em sangramento e hematomas na pele.
Como mencionamos anteriormente, a cirrose é um diagnóstico histológico. Faça uma revisão da histologia do fígado respondendo ao questionário do teste a seguir:
Conduta
É importante o tratamento das causas de base, uma vez que a cirrose é o estágio final da doença hepática crônica. Monitoramento de complicações com terapia diurética para ascite e restrição de sódio são essenciais. Terapia medicamentosa, quando apropriada, deve ser considerada. É possível retardar ou parar a progressão da cirrose e reduzir a chance de complicações ocorrerem através do controle das condições de base. Na maioria dos casos a doença hepática é irreversível.
Orientações sobre o estilo de vida devem ser dadas para os pacientes, para que se alimentem de forma saudável. Aconselhar a cessação do álcool e fornecer o suporte necessário a etilistas pesados é necessário, uma vez que a abstinência alcoólica é muito importante.
A terapia medicamentosa pode ser necessária, como antibióticos para prevenir infecções, ácido ursodesoxicólico, para tratar cirrose biliar primária e a colestiramina, para alívio do prurido. Para reduzir o risco de constipação e de encefalopatia hepática, laxativos como a lactulose são prescritos com o objetivo de atingir 3 a 4 evacuações pastosas por dia. Terapia de quelação com a penicilamina pode tratar a doença de Wilson. Já a hepatite autoimune pode ser tratada com corticoesteróides e para hepatites virais medicações como o interferon são as opções de primeira linha.
É importante o acesso e o monitoramento dos pacientes para prevenir a piora do dano hepático. Um seguimento de perto é necessário e o transplante de fígado é eventualmente uma opção para alguns pacientes que apresentam complicações incontroláveis.
Complicações
- A descompensação da cirrose pode ocorrer em pacientes que continuam fazendo uso de álcool, que ficam constipados, que apresentam infecções, que fazem uso de medicamentos, por desidratação e por sangramento de varizes esofágicas. Pacientes com cirrose descompensada precisam ser internados e tratados. Pacientes com ascite precisam fazer restrição de sódio e usar diuréticos como a espironolactona, um antagonista de aldosterona, ou um diurético de alça, como a furosemida. O fluido da ascite pode ser drenado por paracentese através da inserção de um tubo na cavidade peritoneal, o que reduz rapidamente seu volume.
- O sangramento de varizes esofágicas pode ocorrer devido a hipertensão portal. Medicações como o propanolol são prescritas para abaixar a pressão arterial. A anastomose portossistêmica intra-hepática transjugular (TIPS) é uma opção para reduzir a pressão na veia porta.
- A encefalopatia hepática é a alteração do nível de consciência ou o estado de coma secundário à cirrose. As toxinas que normalmente são metabolizadas no fígado se acumulam no sangue. Constipação e infecções podem desencadear a encefalopatia hepática e devem ser tratados com laxativos e antibióticos. Pacientes que estão sob o risco de obstrução das vias aéreas precisam ser intubados. O transplante de fígado pode ser uma opção para tratar alguns pacientes.
- Peritonite bacteriana espontânea ocorre em pacientes com hipertensão portal, ascite e cirrose. O diagnóstico pode ser feito através da paracentese e o tratamento é realizado com antibióticos. Pacientes que continuam apresentando ascite deverão usar antibióticos profiláticos.
- O carcinoma hepatocelular é um tumor maligno primário do fígado. Pacientes com cirrose devem ser triados com ultrassom. O carcinoma pode ocorrer na hepatite B ou C, hemocromatose, esteatose não alcoólica, deficiência de alfa-1 antitripsina e doença hepática alcoólica. Pacientes apresentam sintomas como icterícia, perda de peso, dor abdominal, náuseas e vômitos. O tratamento é feito com transplante de fígado.
Resumo
- A cirrose surge devido a fibrose e cicatrização resultantes da doença hepática crônica.
- Fatores de risco: o maior fator de risco é o uso excessivo de álcool por longa data, doenças como hepatites autoimunes, esteatose hepática não alcoólica resultante de obesidade ou resistência a insulina, hepatite B e C, cirrose biliar primária, galactosemia, hemocromatose, síndrome de Alagille, ingestão, inalação ou absorção cutânea de toxinas levando a hepatite, hepatite induzida por drogas: amiodarona ou metotrexato.
- Sintomas: distensão abdominal, perda de peso, fadiga, icterícia, prurido, hematêmese, melena e confusão mental.
- Sinais: hepatoesplenomegalia, icterícia, leuconíquia, baqueteamento digital, eritema palmar, aranhas vasculares, telangiectasia, hálito hepático, equimoses, edema periférico, perda de massa muscular.
- Testes sanguíneos: hemograma completo, função hepática, ureia e eletrólitos, albumina, RNI/INR, tempo de protrombina, sorologia para hepatite B e C, estudo da cinética de ferro, alfa-1 antitripsina sérica e eletroforese de proteínas sanguíneas.
- Testes imunológicos: anticorpo antinuclear, anticorpo anti-músculo liso, anticorpo anti-mitocondrial, ceruloplasmina sérica.
- Exames de imagem: ultrassom, TC e/ou RNM abdominais; endoscopia digestiva alta e colonoscopia.
- É essencial tratar a causa de base da cirrose.
- Modificações nos hábitos de vida: dieta saudável e abstinência alcoólica.
- O tratamento médico é importante para reduzir a velocidade de progressão da doença hepática.
- Opção cirúrgica: transplante hepático para aqueles pacientes que apresentam complicações incontroláveis.
- Complicações: descompensação da cirrose, varizes esofágicas, encefalopatia hepática, peritonite bacteriana espontânea, carcinoma hepatocelular.
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